Páginas

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

sobre gatos (e uma declaração de amor)

Hoje conheci Haku. Minto. Eu já vira antes. É branco como Gandalf ao fim. Sensível como aquela elfa branca... hm... que fez o Bob Dylan no filme do Scorsese. O Nego é canceriano. tá junto.



 

"Pronto nega. Era o que faltava pra você virar bruxa."

Um gato.






Leon mija nas minhas coisas. Todas. E eu viajo. Muito. E ele não gosta disso.
Entre amanhecer rumo a Marília terça-feira e chegar em SP no fim de tarde da quarta e encontrar - mesmo tendo se certificado de fechar a porta - a cama toda mijada pelo Leon é qualquer coisa de muito amor. Uma das coisas que vim buscar em SP foi a escaleta. Ao colocá-la na na mochila, sinto o rastro de Leon. - mijara nela também.

(preciso castrá-lo e ele me ama: combinação fatal.)

Há pouco disse que "minha primeira gata foi à distância", mas menti. É que na bem da verdade, foi bem de perto. Afinal de contas a Passarinho pariu nas minhas roupas, ora. Eu não estava em Araraquara quando aconteceu. Eu e ela não tínhamos lá a melhor relação do mundo, mas uma fêmea parir nas roupas de outra fêmea deve dizer qualquer coisa sobre a afinidade entre elas...
Passarinho enlouqueceu sozinha e muitos filhos na Moradia.

O Patas... uma de suas crias... sempre me lembro dele bebendo água do filtro da Dona Adriana - gato sortudo! (Aliás, bons felinos reunidos naquele belo lar)

Mas é uma menina de olhos azuis. arregalados. A primeira me escolheu antes.
Quando comecei a falar bastante com o Beto ao telefone, a Lara ia pra perto dele. Era ouvir minha voz que ela se aproximava, mais e mais. Vez ou outra bastava uma mera conversa comigo via computador que ela já se aninhava nele.


Quando (finalmente) eu estive em Londrina, a afinidade se confirmou. A registrei numa das poucas fotografias que fiz daquele fim de semana. Segunda-feira, antes de pegar o ônibus que - como hoje, fora prorrogado da noite pra manhã - estava eu ajeitando a mala, quando peguei a máquina fotográfica. Olhei da porta do quarto de hóspedes (onde ele tivera a audácia de deixar as minhas coisas quando cheguei) e via os dois me vendo partir: Beto e Lara.

Beto não sabia que eu fotografava. Me olhava como quem vê alguém que não se sabe sendo observado e, por isso, mirar os olhos dele através do visor da máquina era olhá-lo, fundo, entregue, como a quem não se sabe sendo visto.
Lara ao contrário encarava a máquina. Observava e se sabia observada pela coisa.

Eis a foto: os dois me vendo partir. Cúmplices. Londrina é o nosso lugar. Totem E Tabu. - tenho vontade de voltar pra lá para vê-la.

Mas antes do Leon ainda houvera outro. Gato que nem existia(?). - Le chat du Rabbin - lêcháderubã. [Filme que nos apareceu quase que como acidente, numa das nossas tarde mais belas. Um gato apaixonado por sua dona, que aprende a falar e trilha com seu dono caminhos de diversão, riso, numa atmosfera ecumênica. Diferentes que sabem coexistir e os que não sabem. O quadrinho virou filme. e eu indico para quem gosta de gatos, pra quem gosta de religião, pra quem gosta de amor, pra quem gosta de animação.]

(Ah! Se a sala 3 falasse... - contaria nossos segredos e juras de amor trocadas enquanto subia o letreiro - futuros amantes. futuro cineasta. sonhos)

Eu e Beto fomos gostando dessa coisa de ir se descobrindo e descobrir o outro, descobrindo o mundo.
Por exemplo, esse filho de São Francisco de Assis veio - também - foi pra me ajudar a amar os bicho.

Quem me viu com a Passarinho desacreditar ao me ver gamada no Leon, de dar banho e tudo mais.
Beto é meu Chico de Pé Grande.
Imenso.
E sim. Gatos.
Um acaba de se aninhar no edredon que me cobre...

( - meu amor dorme longe...)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

queridodiário

tenho um gato que se lambe todo no cobertor que meu amor me trouxe
pra me aquecer enquanto ele fica lá. longe.
tenho amigos doidos. que gostam de cartas. de saraus. de prosa longa. 
dão prosa pras minhas brisas e a gente fica delirando.
tenho uma pilha de livros de um só autor. um morto que me acompanha há anos.
tenho um brother com quem conversar sobre a pilha. e a gente gosta tanto da prosa que falaremos com mais dezenas sobre.
tenho vontade de poesia, embora fique em prosa
tenho um quase na bagagem. uma colocação boa
e hoje quase tive vintemil.
não tenho sono, mas me vou dormir
que tenho sobretudo, vontade de mundo
de estradar
e amanhã, 
tenho pé na estrada outra vez.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

música serve pra isso.

"sua vida É um espetáculo, Isabela." - ou era algo como "em constante performance?" - algo assim eu ouvi de um grande amigo meu. grande amigo. e não é lá algo muito fora da realidade. Desde que o Salsicha tinha espalhado pras duas turmas que eu cantava vira mexe eu ouvia "canta no fim da aula", "hoje você vai cantar né?". e eu sempre dava um jeito de simplesmente não tocar no assunto pós-roda de avaliação. eu então pensei em fazer uma surpresa no dia da formatura: levar um violão e cantar direito. mas eis que no meio do caminho tinha a rede globo. resolveram filmar o trampo da ong em que eu trampo praquele programa sobre ações sociais que ninguém vê mas que passa sábado de manhã. -  e a gente sabe que existe.
o pedido foi: por conta das gravações, adianta a atividade com violão pros meninos. well. não o fiz. pensando agora, uma idiotice imensa não ter feito - teriamos atrasado a colagem dos cartazes e não precisaríamos tê-los destruído para remontá-los. quem disse que adiantou. Kelvin veio já enfático e no começo da aula: você vai cantar né? - canta "Pais e Filhos" do Legião Urbana.
***
Essa foi uma das músicas que eu cantei quando levei o violão e não fui tonta. encerramento da oficina de literatura com o grupo de dança. cantamos em coro. eu engasgava. sempre engasgo. quando tô tocando violão é mais fácil. o coro embala e eu me concentro nas cordas. quando é a capella o choro parece que me vence.
com os meninos do núcleo-luz houve toda uma história recheada pelas aparições do Legião Urbana durante as aulas. A relação canção e roteiro de cinema; o (excesso?) de citações de canção em 'Somos tão jovens'; o lançamento dos filmes; o episódio quase vivido por mim e testemunhado por dois aprendizes sobre o dia que a livraria cultura faria uma exibição gratuita de "Faroeste Caboclo" com direito a debate com os protagonistas no fim.  - a fila era quilomêtrica e isso não é um exagero. muita gente. da sala se encher e ultrapassar o limite do suportável e globais saindo pelas portas do fundo em plena paulista pra se proteger da multidão. - cinema, de graça. na rua. well.
***
por outro lado, na emef cidade de osaka, em são mateus,  'pais e filho'  liderava uma lista de músicas, o "top 10" das canções preferidas da turma da tarde. eleição feita pro fanzine que contava com whitney houston, los hermanos, beirut, pitty dentre outros. e kelvim queria era aquela.
- aquele era o dia sugerido pra levar o violão. naquele dia contei pra eles da ida da globo.
e se de manhã eu estava dando conta do fogo da contradição queimando por dentro, a turma estava radiante por estar na tevê exceto pela exigência da diretoria de que todos usassem uniformes. - comoção geral. mas por fim eles se convenceram.
à tarde foi mais difícil. ao ouvir "globo" a gente ouvia repulsa feroz e apaixonada. - o uniforme quase que conseguia ser de menos. eu disse "quase". - "eu sou contra a uniformização. eu não uso uniforme. isso é o que eu acredito." - "você pode não vir".
o que eu ia fazer? eu, na condição deles, faria a mesma coisa - não tô dizendo lá atrás, há 12 anos atrás. digo hoje. nos dias em que eu brigo com as pessoas que passam no sinal vermelho.
como pedir pra eles gostarem daquilo? - eu não gosto! foi difícil.
princípio de contradição da existência.
a aula foi uma bosta. eu mal conseguia interagir com os meninos. ao fim, eu puxei a roda de avaliação e conversei com eles. pedi desculpas pela bédivaibi, que tava difícil, eu não gostava de ficar daquele jeito com eles, principalmente no nosso último dia e que eu tinha que cumprir com um  pedido que haviam me feito "mas vocês precisam cantar junto, viu?"

estátuas e cofres e paredes-pintadas (ninguém sabe o que aconteceu. - ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender)

(não consegui disfarçar dos meninos a carência e a saudade do meu lamento "eu moro com meus pais... não mais)

 -e sim, eu choro. porque viajo anos com essa música sempre.
eu lembro cristalinamente, há muitos anos atrás, dentro do carro - quando o Bruno nem dirigia ainda - eu perguntando pro meu irmão: "como assim? ele cada hora mora num lugar? com a mãe, na rua...?"
"é liberdade poética, gorda. poeta pode tudo".

anos mais tarde, era ele com o violão à colo, eu, minha mãe e meu pai cantando com ele e a turma dele de terceiro ano lá no centro cultural "é preciso amaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAaaaarrr".

 - antes de cantar eu contei pra eles que eu tinha planejado cantar pra eles na formatura, mas que não ia rolar, porque a globo ia, etcetcetcetc. que ia ficar mais careta a coisa.
***
eu e o salsicha temos uma capacidade incrível de cantar pérolas do cancioneiro. despreocupadamente. infinitamente. here there and everywhere. enquanto a gente pregava os cartazes foi de tudo "lá vem o negão, cheio de paixão" - a gente veio com "maracangalha". eu infectei o resto do pessoal e, de repente, a gente tava discutindo porque manonas era um clássico e porque eu aquela outra banda, que eu nem sei o nome, não. "é porque eles morreram." - e eu me contendo pra não discorrer sobre toda a minha teoria do riso nos mamonas!rs
infectados por música. assim a gente se comunicava. descontraía. tava absurdizada com o cara que botou um senhor rockpesado em pleno almoço da criançada. eu pirei. os meninos já são agitados...rsrs toda tia. rs .entre a chegada dos meninos no refeitório-salão-de-formatura passou gilberto-gil via paralamas do sucesso numa versão mais rappeada que nunca, com violão-de-acústico-mtv ao fundo, o rappa evocando jorge ben: "temo cabelo duro somo black pau".
***
e começa a coisa toda. os meninos fizeram discurso né?o da manhã já me arrancou lágrimadozói. o discurso da tarde era uma verdadeira surpresa. o jogral das isabelles com andrew culminava em nada mais nada menos do que um fim assim, ensaiado: mas peraê? acabou?"

 - é preciso amar
as pessoas como se não houvesse
amanhã.
porque  - 
se você parar
pra pensar - ... na verdade
não há.
Registro do discurso de Izzy, Bug e Andrew. "não está faltando alguma coisa?"
~ MÚSICA ~

(serve pra isso, porra.)

na volta da formatura, sem carona, encarando mais uma vez a odisseia da volta no transporte público de são mateus pra cá, a alegria-leveza era tanta que eu e o André cantávamos leves, alto e com direito a coreografia na perua lotada: "sabe, tchurururu que tô louco pra te ver... oh yeah".