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terça-feira, 18 de novembro de 2014

o amor pegou pesado.

dessa vez o amor pegou pesado. na saída do metrô, o amor me olhou de esgueio e já não me mirava mais. vai. me levava pela mão pelo caminho de sempre, mas já não estava ali. o amor, que até anteontem, construía belos castelos nos ares, horizontes, londres, luccas, que tais, agora me contava sem dizer que ia embora. e é claro, que o amor negaria, pois ele estava ali. ainda perguntava sobre o dia, sobretudo, desejava bom dia, quando não repetia o mantra ali criado "tododia" - fosse em francês, italiano, na língua que fosse. o amor pegou pesado. manteve o corpo perto e me explicou, sem dizer uma palavra, como é que é o amor quando o amor vai embora. é que ele, parece que, me espiava de outras vidas. o amor me viu indo embora sem olhar pra trás. o amor me viu duvidando da vida, do rumo, da entrega. o amor resolveu se vingar. agora era a vez de me fazer sentir de volta. o amor estava ali, mas não estava mais. e nesse limbo insuportável, o amor me devolvia a mim. e isso, foi golpe baixo. o amor fez de um jeito que quem fez as malas fui eu. atravessei a cidade atordoada e fui me encontrar comigo, ali, esquecida no meio de um monte de tranqueira que outrora tinha sido eu. remendo de passado, vontade de futuro e uma sujeita sem coragem de ter desejo de enlaçar a própria mão. 'o amor é uma merda' - pensava algumas vezes ao dia. no primeiro dia doía pra caralho. no segundo, já conseguia respirar. no terceiro, ainda contava até dez antes de tentar acessar o amor. depois, já estava mais próxima dessa coisa que chamam eu. o amor pegou pesado. ele ainda me ronda e não dá respostas. o amor me devolve todo dia. com lâmina afiada de justiça, me realinha com passado, com passos dados, me dissolve qualquer futuro que não tenha chão calcado no agora. o amor me devolveu o presente. e eita presente pesado. o amor pegou pesado.