Páginas

quarta-feira, 23 de abril de 2014

caminhante noturno

pisa o silêncio
caminhante noturno
foge do amor
que a noite
lhe deu sem cobrar
sem falar, sem sonhar.
vai, caminhante.

transgressor, ele era desses que sentia desejo. a torto e a direito. tentado pela força da terra, pelo movimento imperativo do vento, as labaredas do fogo. explodia de dentro pra fora a queimança de amor, o vendaval de bem querer. bem quis tanto até cegar. bem quis tanto que do afeto, da gratidão, do carinho, da sutileza, deu querer trazer pro corpo também a alma daquela que o pariu. e lembrou do acolhimento do útero, do quente, do úmido. da textura da pele nos lábios. o abraço dos seios fartos. quis se aninhar de morrer de amar e a amou. a fúria encarnada em olhares, dizeres, em fluxos de pensamentos, em dedos apontados. em riste. uma água de poço parada, um ruminar de não entender: ele foi condenado a vagar pelas estradas. antes mesmo da fúria branca do pai criador, fora o caos de dentro e o antever do caos de fora que o fez andar, andar. andar a esmo. andar. a torto e a direito. galopar. e dessa fúria solitária de excesso e falta de amar ele cria e destrói por onde passa. volátil como metal. corta fundo onde passa. arranca. marca. dá passe e vez a quem caminha. atenta aos sinais das folhas. quase não fala. mas tem olhos que ardem toda a cor. vagueia e quando é lua cheia, uiva alto. mata de surdez o dragão.