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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

santos

"e ela que não falava uma só palavra em português, fazia pexinxa na feira"

esse é o trecho de uma carta italiana que nunca se viu. aquele Negro sentado ali na sala a reconta, feito um griô, de braços dados com as gargalhadas que ecoam por gerações, desde o norte da África, atravessando os litorais europeus, desembestando nas paragens entre ilhas vera cruz. Muitos de nós se hospedaram aqui.

Aqui, do lado de lá, tem porto. Embarcações carregam saudades, mercadorias, esperas. Ao bel prazer de quem fotografa com as lentes da memória, calha a melancolia ou a beleza, - há de haver tempo em que elas não vão andar tão juntas, ou quiçá, não sejam as melhores companhias uma da outra...

O riso do Negro é entrecortado pelo do Japonês que revisita a terra pisada. Eles rememoram a si mesmos enquanto contam causos. Um das ruas que não têm travessas, do ar que é condicionado, dos presságios de uma leoa com saudades que, em anos, descumpriu a regra e se arrependeu. Das estrelas se promete não mais falar pra decifrar os comos e quandos de si e dos outros.

O vento sopra e desenha a água no céu.

Jardim de areia, oferenda, mar de gente. Pipocam entre corruptos e bolachas, rosas brancas, vez ou outra vermelhas ou amarelas. Entre os passos que só procuram o caminhar, todo um povo de riso, de ancas largas, de pouca roupa, de cabelos pintados em ovo, em sal, em suor. - pula três ondas, faz sinal da cruz com a ponta do dedo de sal. Obstinadamente pequenos constroem seus castelos de areia. As nuvens passageiras no ar desenham o pôr do sol. Os dois amigos compõe: roxo e amarelo.

As vidraças dos prédios tortos se despedem do sol. As ondas largas em laranja iluminam ainda lá no alto a ponta do algodão doce gigante.

Os semblantes cheios de fé levam botões e garrafas, olhar de entrega, súplica ou puro encantamento.



O mar.

Azul de sua tarde - Martha Barros




Andrógeno abraça e acolhe os pedidos, leva e lava o que tem que limpar.
Em movimento, os cabelos de espuma acariciam os pés.

 abensonha, amadrinha, amansa, enlaça.
os amantes se entregam à vontade de estar e superar. se beijam, se olham. se molham. se lançam.

tem branco ao redor. tem batuque. tem luz. tem conta. contagem. regredir jamais.

o olhar mira o horizonte entre ilhas, palmeiras que não se vê, trilhas que não existem:

"é bonito esse lugar."


em instantes, tudo já era de novo o que era e o que pode ser, assim, ao mesmo tempo.

Na cozinha, a barra da saia da baixinha, que se assusta com o levado que, como em todo domingo, a assusta. Não era mar. Mas também tinha nome de Santo. Na cozinha, quente do forno, a promessa de quentura no coração.

 - do alto ela se ri toda, não mais pequena, mas imensa e espalhada por todos os poros das lembranças dos seus.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

re-ver e brisar '13

doismil-etreze foi/está sendo um ano confuso, com-fusão, que nem o amor do Baffô. de início de parto difícil, de defesa-show, de viver morte-dor-luto-metamorfoses de ex-enlaces, de dar passos largos com os pés do rebento. de ir viver na selva cinza. pedra. metrôs. com casa, com várias, sem casa por mais de uma vez. decepções. muitos sapos engolidos. muitos. quase muitas coisas. inclusive um que era pra ser quase, virou total e agora, na reta final, na hora do balanço do ano, pede tempo, respira, tropica, se confunde, se perde. - caminha.
dois-milÊtreze. lecionar, colecionar textos internos pra parir no mundo. ressuscitar aos poucos o sonho, a vontade e a utopia da escrita engavetada em algum semestre da faculdade, num ano que não era treze, eram seis. estudantes. aprendizes. aprender a ensinar. necessidade que urge de voltar a aprender. este foi o ano em que eu mais assisti à vida e me entretive com as pequenesas das coisas do cotidiano, uma dessas tiazonas de cidade do interior que vivem ali, gastando horas, na janela penduradas, só arreparando nas cores, nas coisas e nas contas das gentes. minha janela é virtual - nem por isso menos futriqueira e esvaziante. 
tá certo. tá certo. não é assim também. dois mil e treze. quase sem reza em templo. as pedras e ruínas do templo de dentro. casos de acasos mais ou menos marcados e muitas cartas de tarô.
trio. amigos. o morto mais vivo dos últimos anos fazendo cem anos. minha companhia. dele eu falei e cantei tanto. - e ai, como é estranha a sensação de ainda assim não ter falado tanto, quanto e como eu sinto pulsar dentro.
esse ano eu saí da academia. não queria tirar ela de mim, mas precisava. a gente mal se dá conta de como essas coisas viram a gente, prendem, dão suporte e são muletas das quais precisamos nos separar, mas que nos momentos de fraqueza sentimos muita saudade.

lá dentro por tantos anos e agora, aqui fora. me disseram muito do lado de cá. e quantas tardes, manhãs, madrugadas e noites não gastamos cuidando do mundo, sem descuido no plano das ideias, utopias, vontades e análises, interpretações e diagnósticos. de um lugar confortável, inebri-apaixo-nante, edificávamos vontades. quantos plurais. é que vejo por aí meus amigos. os que vejo e os que imagino. e sinto que cada um tem sem tempo de firmar os pés e se achar no mundo depois que saiu de lá. 


treze. Dois MIL!! pois[é. ano de extremos. do parto de uma dissertação tão grande que conta-se nos dedos da mão direita - graças ao Max, agora também já na da mão esquerda, quem a leu inteira, à sensação de atrofiamento da curiosidade e disciplina estudantil-pesquisadora. citações, borrões, teses, artigos. eu me embreaguei de poesia e brisei.
criei um blog. o ponta-pé foi uma crônica que nunca repostei aqui, parida pós show do Paul. as brisas da isa. 
visto um filme e um texto dentro da cabeça. aquela canção. aquela treta. aquela viagem. blog criado com a promessa de não ser túmulo das minhas ideias. e eis eu aqui: abri essa página em branco pra tentar me redimir escrevendo sobre biografias autorizadas ou não e dois filmes sobre Legião e até agora não saí do "meu querido diário - versão retrospectiva".

que será que o facebook teria marcado de retrospectiva? eu hesitei, evitei e não cliquei no link. eu saí do livro da cara algumas vezes esse ano. uma até registrada aqui. minha janela de tiazona me arrumou trabalhos, me conectou a pessoas incríveis e estreitou laços. mas potencializou minha mania besta de falação, observação e exagero na importância do olhar do outro para/sobre mim. 

os brilhos do palco. esse ano eu me rendi à música - e sinto que ela esperava mais de mim. de todo modo, como deu, estudei canto e conheci um ser de luz divertido, engraçado e rouxinol- que me mostrou que é só não temer. ririri que gosta de inverter o nome, sem perder o orgulho de ser maria, foi curandeira, amiga, irmã, mestre, bruxa, terapeuta e nem deve ter tanta dimensão assim.

não é à toa que chamam de SOPRO de vida. o ar, último dos elementos que nos fez gente. pós a terra e a água, misturadas no barro que se moldou e se firmou no calor do fogo, os movimentos e as palavras foram criados e guiados pelo ar. sopro. respirar, me mover, encarar minha hesitação em fazê-lo, observar a sensação ao me preparar para o canto foi qualquer coisa de maravilhoso. e tão óbvio e evidente.

mas o palco é sobrecarga de emoções e responsabilidades pra quem o vê assim. além de todos os além que me fogem agora que me repreendi em pleno desencontro entre pensamento e dedos que digitam.

me publicaram em 2013. um amigo que nunca vi até chorou por saber que é alguém por quem tenho respeito. meus amigos viraram e virarão livros. eu fiquei rabiscando palavras e apertando enter = chamaram de poema.

em dois mil e-tese eu fui júri, oficineira, educadora. fui e estou desempregada. freelancer. classe média, ah, bê, cê dê-ocarai. with a little help from my parents.

em 13 dos mais mil-dois, eu não entendi; eu tive medo. eu escolhi nome pra filhos. eu falei como há muito não falava de mim. narcisa. insegura. eu criei mundos meus. eu saí pra tomar chuva. pra dançar. eu arrisquei. eu errei. eu menti. "pra si mesmo é sempre a pior mentira".

eu juntei laços. eu não tinha dimensão da potência do que posso ser diante do que escolhi caminhar. 
dois ou mil ou treze, rés, real, viés.

sarau, homenagem, show, teatro, barroso, moraes, ogãs, arrastão. descobri a força do poder do 7. parecia um 7 de paus do mitológico. há 7s bem treze.

negatividades criadas. 
desimportâncias criadas.

mas ainda assim. suja de lama. cansada dos tropeços. marca pelos corpos. eu prossigo. 2013 eu apertei a mão de um Negro e disse venha comigo e repito. eu aprendi a dizer "sou cantora". - admito que essa palavra ainda demanda tanto mais cuidado e carinho do que há agora. sem mais nem medo. 

ano que vem cantora rimará com professora.
insegurança vai rimar com enfrentamento e altivez.
humildade. verdade. 

2014 eu queria ver mesmo esse blog cumprir sua missão: não quer ser túmulo das minhas ideias. quero brincar com os lápis aquarela da vida, jogar água pra espalhar, fazer novos contornos, croquis do sonho  e dos planos.

reafirmo minha paixão e vontade pelo Projeto e grito.

sinto sono. 
perdi o fim da meada.


brisei.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

pedaço de sol na lua de natal

Mais tarde, era a Lelê ainda quem estava toda acordada penteando o cabelo da boneca que a irmã ganhou, toda cuidadosa enquanto nos ouvia falando a torto e a direito. Flagrei o olhar hipnotizado: 
"Você gosta de fogo, Lelê?" 
- enquanto se movimentava muito a chama da vela imensa que já assistiu a tantos Natais.  

"Não." 

"Mas você não acha bonito? Olha só? Ele brilha! Mas não dá pra pegar? Ele é quente... tem que tomar cuidado, mas o fogo é tão legal".

"É um pedaço de sol"
E os olhinhos e as mãos repetiam o gesto 

"Sobe Sol, Desce Sol, Sobe Sol, Desce Sol" 

 - e eu besta de ver e ouvir um Manoel de Barros ali em ato - a verdadeira poesia está na vida de fato.


"Sobe Lua, Desce Lua"
 
Sabia que existe uma Lua dentro de você? - é?
É. Ela tá atrás do seu umbigo.
Dentro de toda menininha tem uma Lua. No Tio Lulu não tem Lua porque ele é menino. Mas na sua mãe, em mim, na Tia Mari, na Renatinha, na Juju...
Só que a sua Lua ainda é filhotinha. Quando você crescer você vai ver que a sua Lua se mexe lá dentro... É. A da mamãe, a da Tia Lulu já é grande se mexe. A da Tia Bel é grandona e já não mexe mais.
Mas toda menina tem uma lua no umbigo.



 



Toda menina
lua
tem.








oração de natal
[

Quero saber do meu pedaço de Sol, percebê-lo como percebo minha lua. e fazer com que ele me aqueça na escuridão e me guie nas aventuras do seguir sonhos e equilibrar o otimismo da vontade.



]

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

teu fogo, anna.

Ana me chamou pra ir ver o que tinha do outro lado do escuro, além da sombra. Ana não tinha medo de quase nada. como quem pega o cigarro e sai do bar pra alguns tragos, Ana sumia no mundo. Ana me fez o convite, já sabendo que eu não daria conta e duvidou de mim da primeira vez que me viu. ainda assim ali, lá. nós. os olhos esbugalhados. Ana só tinha medo de ser desvendada. de resto, gastava horas construindo linhas, edificando palavras e traduzindo rostos pintados.
ana sumiu.

anna me cortou. assim. inteira. o som da voz de anna me invadia e devagar eu já ia virando anna. mas anna se dava como quem se preserva. rodeada de ninguém, anna se deu em folhas e eu fui distribuindo annas.

não tinha compasso certo. a gente dançava no ziguezaguear da calçada. pulando na descida da rua nova, de frente pro templo daquilo que vale, eu me entregava numa pirueta e virava estrela. ana desconsertada, sorria com o canto no lábio, me olhava debaixo pra cima.

hoje rezei pra ana. abri-lhe as pernas, beijei-lhe o sexo. quis que ela se achasse em si. as cartas sobre o pano rosa. a vela sem castiçal. [anna me cria desimportâncias]. passo as tardes bobas e adolescente pensando nas bobagens de ana, na liberdade de anna, na ousadia dos seios livres debaixo da camiseta. os cabelos crespos. os cabelos vermelhos de anna. trovoa.

um gole de cachaça em plena lapa. ana me fotografou no flagra. não tinha unhas coloridas, mas reclamava. ana se entristeceu com o cigarro que a grávida fumaça. dei um pouco de anna por ali. rasguei nossas páginas e pintei os lábios. tatuei os poemas. nos espalhamos por aí.

ana cortou o cabelo, mas deixou o bigode. voltando pra casa de metrô, zombaram do suvaco de ana. cabelos, pelos, merda - ela pensou. anna se esfregou nas costas da mulher maldosa, esfregava suas pragas de silêncio contra seu corpo que espera o macha alfa. ana a nocauteou com o olhar surpreso de busca. achou a si.

mandavam ana tomar no cu e ir se fuder. feliz feito pinto no lixo, ana me levou pra andar de bicicleta. ela e o hyldon. ana xinga no trânsito "ó a faixa de pedestre, querido".  - mal se recupera do "vai se fuder, vadia", vem o pedestre defendido ofendendo "ô delícia".

anna é vermelha. gosta de lua e quebra os dedos. ana sai pra passear na feira dos sonhos e vira joão. joanna. juana me pega pela mão, me solta no meio do mar bravio. tenho ressaca de paixão, ana.

ana foi embora e me deixou contemplando a cor da sombra, a textura do suor. ana me deixou rouca. nessa viagem toda de me mostrar os percalços, as calçadas, os buracos, a altura do céu, a espessura do verso, a profundeza do corte, a nudez do poema, a projeção da escrita, a fumaça da pose, a pose da fumaça. nessa maresia toda, anna me vomitou de volta na beira do poço, e eu que não sei me segurar, caí, lá dentro, fundo, no fundo do poço.

olho pro alto vejo os olhos de anna seguindo rumo ao incêndio do memorial.

anna, hoje eu queimei o arroz. ana, hoje eu quase botei fogo nesse apartamento. queimada a vela, ana, queimado o pano, finda a ressaca, ana, por onde começo a catar os cacos?

terça-feira, 26 de novembro de 2013

naufrágio

me afogo com as palavras
vou tropeçando pelas ladeiras
os pés encharcados
a água que corre, escorre
pelos cabelos, os pés, o ventre
me inunda.
imunda, engasgo e soluço
me embriaguei de poema
de vírgulas tortas
parágrafos inexistentes
paráfrases, parábolas
metáforas
de repente a espada, um punhal
nas mãos de um cavaleiro
desastrado.
o café virado de gole de três dias atrás
o papel entalado na garganta
o ar não passa.
antes a garrafa toda do bourbon
ou o saquê da festinha cool de uma terça qualquer
me afoguei nas palavras.
nenhum dicionário há de me salvar a vida.

domingo, 24 de novembro de 2013

são passos.



Foto Clandestina
A primeira vez que assisti ao show do Passo Torto foi lá na Casa de Francisca. Eu ainda morava em Araraquara e vim, única e exclusivamente, para assistir ao show. Há algum tempo encantada com os barulhos paridos pelos quatro moços de múltiplos projetos nessa cidade cinza, eu aproveitei a deixa de novos amigos e vim. É de fato uma casa. Pequena. Aconchegante. Mas que presa pelo espetáculo. Não se serve nada quando começa a apresentação. Fotos proibidas (eu vi uma moça fotografando e fiz duas clandestinas! rá). Silêncio total e absurdo. Mas o quarteto ali está literalmente em casa. Entre uma música e outra, alguma história. As piadas com a ausência dos discos pra venda e a divulgação do site Umquetenha para baixá-los e a alfinetada certeira nos "grandes da mpb" por Kiko "O Chico não disponibiliza lá...". Mas eis que eu ouço uma reclamação de que ninguém cantava junto as letras das canções... Poxa!! Eu até queria. Com todas as letras de cor, fiquei sussurrando ali... mas me senti totalmente constrangida pelo local e não saiu um risquinho de voz.

Já habitante da pauliceia, eu fui caminhando da (já) saudosa rua Clélia até a Serralheria ali na Guaicurus.  A Serralheria é um terreiro. Um terreiro numa sexta-feira a noite. O palco pequeno, o público entre sentado e em pé. Mas estávamos próximos, público e artistas. Com alguns meses de lançamento apenas, o show do álbum "Passo Elétrico" ainda tinha gosto de estreia. O disco se confundiu com junho, com as ruas cheias, em choque, em transe. O show em ciclo abria e fechava em barulho, dissonância. "Passarinho esquisito" abriu para "Um homem só" e sua bonita solidão, compartilhada com as mulheres, "Isaurinha", na crônica recheada de malícia nos sussurros de Rodrigo, entre Belém, Natal, Portugal, com vergonha do amor e "Helena", nas confissões da cidade que é um rádio por dentro, de prédios que têm varizes, bronquite e que também morrem. Na retomada do álbum anterior a música que de fato é uma linha de continuidade entre um álbum e outro: "A música da mulher morta" - com direito a piadinhas de música de sucesso... o show fluiu entre a belíssima "Tempestade" de Fróes e Cabral que, dessa vez, além de ter um encarte só pra si, dava o gosto de sua voz. Do disco antigo "Da vila guilherme até o imirim" tentamos puxar um coro, Rômulo até deu a deixa..., "Sem Título, Sem Amor", assim como "A música da mulher morta", era canção que ligava um álbum noutro, a proposta da ironia, da frieza, do escárnio, da frieza, da estranheza da existência torta e cinza, que atinge seu ápice no sambão de cavaco e violão, Bis do espetáculo, "Rá rá rá":
Desculpe a dignidade
De lhe dizer atrocidades
Mas essa é a minha maior qualidade
Deixa eu gozar
Enquanto eu morro
De tanto rir

Rá rá rá

e "Cidadão" (uma das canções mais bonitas, na minha humilde opinião.)




Foto de Alessandra Cabral
Ontem foi a terceira. E nada de casa, terreiro. Era palco. desses com cortina vermelha, paredes brancas com detalhes dourados. Mas com vontade de ser descolado, com as cadeiras de plástico brancas e uma luminária de led, em pleno contraste com a pompa do lugar. E no Centro. Um prédio construído dentro da ideologia - reacionária - do "Revitalizar o Centro de São Paulo". Prédio modernoso, pensado por diversos arquitetos e zás e zás e para ser um anexo ao Theatro Municipal  - para "fazer companhia" ao solitário centro de cultura do centro da cidade.
Escorrendo contradições, por suas paredes e vidros, o evento que ali acontecia era o Conexão SP (e acontece ainda enquanto escrevo), patrocinado por operadora de celular. O apresentador se gabava ao nos lembrar de que estávamos no Centro. E de fato, estávamos e tudo de graça. Mas os muros de Samuel são construídos dentro - é "Samuel" apareceu no teatro nas vozes de Kiko e Rodrigo. O evento divulgado na internet solicitava que imprimíssemos os ingressos - gratuitos. Seguranças imponentes  - simpáticos também, devo dizer que sorri muito pra linda negra que se chateava por ter que me revistar a cada entrada e saída - eram o aviso: aqui não entra qualquer um. "Diz Samuel, que que cê pensou?"

Atrasos. Eu pensei que não veria o quarteto, já que cheguei pralá do anunciado - mas, como sou besta! festival: atrasos. Mais de horas. Entramos no teatro e então a pergunta "Gente, já pode começar?"
A sala de concerto é invadida pelos barulhos de "Passarinho esquisito". E o show vai. Muita luz, pouca luz, luz que não dialogava. Diálogo em mímica com a mesa: festival, som nunca nos eixos de -cara "abaixa aumenta" dedo apontado pra Marcelo - de fato baixo, baixo. Ao longo do show, entre uma canção e outra, as falas diretas com a mesa.
- mas pro público, os dizeres das canções. apenas.

Há quem desqualifique por aí a chamada música barulhenta. Mas por mais que eu quisesse um show do Passo Torto em pé, dançante - eu não me aguentava nas cadeiras e liguei o foda-se cantando todas as letras que sabia! - faz sentido que aquele show aconteça ali, sentados, assistindo. São barulhos em texto e contexto, com sentido, com tempo e razão de ser, cada um dos detalhes. E quem conhece as canções - sim, CANÇÕES - espera por aquele riffie naquela hora e os cantarola junto. - Exige-se concentração. E estarem à vontade, com som, retorno e público.

Era o festival. Com shows acontecendo simultaneamente. A contradição do show e do lugar: as pessoas se movem. Levantam. Deixam o lugar, o show: "Não pode sair durante o show pessoal", Marcelo disse antes de começarem justamente "Samuel". Aplaudidos logo na introdução e ovacionados no fim. "Viu? Quem saiu perdeu", dizia Kiko.

Mas eu, euzinha aqui, senti falta do estarem em casa como no terreiro da francisca ou da serralheria. Pra gente não teve nenhum mísero "boa noite" - tudo bem, vai. o clima do show. mas um boa-noitezinho?

Foto de Alessandra Cabral
Foi longe de ser o melhor show deles e eles sabem disso: a falta do cavaquinho no retorno e a letra que se erra, o menino que não entra na estrofe certa pra fazer o dueto. Mas ainda assim, um arrebatamento, imenso. Gente que nunca os tinha visto ao vivo, saiu dali embasbacado. Feliz eu fiquei por ver uma menina de sei lá eu, 3 anos, sendo chacoalhada pelos pais enquanto a guitarra do Kiko abraçava em microfonia o retorno.

eta menina de sorte de ouvir essas coisa assim novinha.

passo torto ao deus dará dos Cidadão Esquizofrênico ali bem perto, no Centro. tão perto e tão longe da música enformada da dor encarnada de existir na contraditória são paulo. são palcos. são passos.

ps.: e é claro que eu sambei "Rarará", de pé e sem pudor em pleno teatro. que agora não regulo mais mixaria.

transa

primeiro o corpo comprimido
sabia do risco 
o tempo já anunciava água
e mesmo assim teimava
em sair desprotegida
mas do que nos protege um guarda-chuva?
então aceitou as lágrimas
que lhe caíam do céu
soltou os cabelos
e deixou que eles se enamorassem
abriu os braços
e rememorou a maré.




sexta-feira, 22 de novembro de 2013

transita entre pessoas
desapercebida a mente
e tece contorno das palavras com gosto
tropeça nas peças
do quebra cabeça
dá por si e quando vai ver
é amiga de um poeta morto.




com Sônia Pinheiro, amiga das travessuras da afinidade
 - que desrespeita tempespaço
e Wilson Caritta, quem descubro viva palavra
depois de póstumo.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

da maior importância

vá embora, vá.

sentamos então nas banquetas das memórias. enquanto falava dos rancores que nos perseguem, havia o interdito de estarmos ali - fantasmas de um mundo que não veio, numa festa de um futuro tosco, que nos amedronta.
me mostrava os prédios antigos como quem quisesse tocar um rosto, se ver novamente no papel, nos pequenos e certeiros traços que a academia aprisionou e condenou ao esquecimento.
Ressentidos: um vendendo os pecados, o outro comercializando sua descrença.
Depois das viagens astrais, aurais, resta o estar condensados, tateando sentidos.

na calada da noite fria, houve o momento do silêncio que grita. o álibi das mãos eram o olhos que encantados distribuíam levezas.


Foram atropelados no meio da rua deserta. cada qual com uma versão diferente:
 - foi a pressa do teu passo
 - foi o balanço das tuas mãos, das tuas ancas
 - foram as luzes do caminhão.

Acordados, de olhos fechados. hipnotizados de olhos abertos. nada do que se dissesse poria fim à agonia. nem remediaria os hematomas dos tombos.

num só golpe, foi feita então a oferenda: borramos o mapa com percalço, procuras, com guache, com suor. ríamos. e entre nós a distância incontida do retorno. a lógica eram os borrões de tinta num quadro de cores primárias meio pollock, meio jazz.

me cansei do abstrato concreto e engoli você, então. sua confusão, mastiguei sua falta de sentido pras coisas. engolia a sua letra maiúscula de Moça, seu adeus-até logo, sua ironia, acidez - sua carência inconfessável e infame.

Afinal de conta éramos os mesmos ali. enfeitiçados e enlaçados por pontos distantes das mãos. um, morto de certeza. outro, doente de dúvida.

- engulo eu. vomita você.
zonzo, enauseado, você se aproxima. vomita minha desconfiança, minha insatisfação, meu ciúme, meu ego. vomita minha cara de tacho, minha farsa, meus trocados.

Fagocitados pelo vazio, nos despedimos em silêncio. Num encruzilhada, como havia de ser. 
misturados. atônitos. comovidos de indiferença.

baixada a poeira escondida/arrastada pelo vento, debaixo do tapete do tempo
reafirmo meus passos e minha fé
ao responder as perguntas
que você não me fez.


Quem ouve sua voz
Diante dessa voz
Parada entre nós
Reconhece
O som
Permanece
Som
Afogado
Antes de virar
Felicidade
Prende todo o ar
Quem pega sua mão
Nos dedos dessa mão
Mergulha o coração
Condenado
Ao céu
Mais nublado
Põe
Assombrado
Frente ao azul
O mais azul
Azul de um céu imenso
Cadê você
Pra me levar
Cadê você
Pra mergulhar
Na areia, na manhã
Os pés e as mãos
No lado escuro
Do meu coração
E quando meu cansaço
Cair de cansaço
Daí vou saber
Se era mesmo
Você
Se era tarde
Ou
Tempestade
Que passou sem ver
Sem nem dizer
Se ainda vai voltar
(Tempestade, Passo Torto)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

.arquivo.

[porque quando a prosa trava
ela imbirra, emburra
se destaca
improvisa.
quando a prosa trava
ela brisa.]

***
de quando em quando
o corpo congela
a mente em cólicas
as articulações teimando
o som é a maior de todas as drogas
postas ao redor da roda
fogaréu picadeiro
o ar é uma enchente.
o riso-artigo cult
xadrez, estampa
arrogância alternativa
microcosmo e sua canção
passárgada distópica
siglas em combustão
canil, prainha
carro de patrão.
lampiões de laterna
caixotes modernosos
lustres e imposições coletivas.
nodulos. e o corpo entorpecido
das filas, das iscas., dos riscos.
alternância térmica
cores com poder.
a lama sob sol
posta em dia de feriado.
se exibem os sorrisos em black
riem da independencia.
debocham da fé alheia.
paripasso-suscinto
em foco-síntese
lUcidDream
sente-se o corp'acordar.




***



os amigos virando livros
ela com batom vermelho
espera o passado
ouve harpa no jardim
espirra em diminutos




***



olha a risca, arisca
- arrisca.




***



deletes
metros de metrôs
aperto, acento.
sol com brisa
frente fria.
e vinha mesmo. uma fria. enorme.
no poisé do pai
cafundózona-sul
clarence-dias-joão
bongôs de iemanjá
jangada.
volta arisca.
= a culpa é da lua.
nem é da sua conta.
vinte quatro - nem um segundo a mais.
sem busão
sem noção
cu-na-mão
anj'andré
consolação-raposo
rodovia
fria
companhia

são paulo é fria
é fria, maluco
é fria.




terça-feira, 5 de novembro de 2013

só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão.

cada vez que estamos à beira do fogo, transformando a matéria com a força de seu calor. Ver o talo virar caldo, remédio que cura. Ver o cru virar cozido. O caldo virar doce. A folha virar xarope.

cada vez em que nos encontramos e falamos da vida, partilhamos nosso suor e sentimentos.

cada vez que o vermelho nos escorre. seja em dor. seja em negação. seja em aprendizado. seja em dúvida.

o arquétipo de mulheres que se sabiam parte do mundo. da natureza. que com sua colher de pau curavam e operavam milagres.

cada vez que uma segura a mão da outra pra hora do parto.

cada vez que o sexto sentido grita e acerta.

 - mas  dizem que a gente não pode.
dizem que a gente que é louca.
dizem que a gente nasceu pra cuidar. que a gente não é dona da gente.

[estão no mesmo meridiano do corpo o ponto da sexualidade e da esquizofrenia.]

estamos dentro. fora. adiante. e aqui é dentro. é fecundo. é fundo.
é água.

mas também é fora, é ação, é sol. é leve.

e infinitas. como o grande tempo. no grande espaço de sermos todos um conectados.

ressuscitai o espírito do poder do feminino e celebrai seu vermelho.
ou ao menos, o mínimo, que não percamos a dignidade nesse mundo cheio de dor, preconceitos, medos, injustiças.




segunda-feira, 4 de novembro de 2013

AfroSampa - ou as travessuras de Exu.

Mesmo porque Exu é capaz de,
atirando uma pedra hoje,
acertar um pássaro ontem.
(Antônio Risério,
citando um oriqui de Exu)
Foto de Divulgação:Leco de Souza




Nesta quarta e quinta-feira acontecem as apresentações do show "Afrosampa", onde o ponto de partida é uma releitura urbana(?) dos afro-sambas de Vinicius e Baden Powell e paralém do álbum. Não é forçar o argumento dizer que o show contempla a estrutura de sentimento na qual o disco está inserido, já que estarão presentes ali também Moacir Santos, Edu Lobo e mais outros compositores e suas canções contemporâneas aos afro-sambas.



Dois lugares distintos no tempo e no espaço. Duas propostas sonoras, projetos e ideologias diferentes vão estar dividindo o mesmo palco nesses dias. E é com muita alegria que vou testemunhar o encontro.

Confesso que dos nomes citados, eu conheço mais os trabalhos de Kiko, Juçara, Criolo e Marcelo Cabral. Mais que conhecer, o acontecer desse show contempla desdobramentos da minha pesquisa sobre os afro-sambas de mais de quatro anos, que virou a dissertação "É, NÃO SOU: ensaios sobre os afro-sambas no tempo e no espaço". 

Ano passado durante um congresso de Hip Hop aqui em São Paulo apresentei a comunicação: "A vez do rap no morro: os rappers relendo as canções de Vinicius de Moraes", publicada nos anais do congresso e também neste blog.  Neste eu comento a intervenção de Criolo (à época ainda Doido), Terra Preta e Rael da Rima no programa Som Brasil, procurando desvelar os novos sentidos dados às canções "Samba da Bênção", "O morro não tem vez" e "Canto de Ossanha" e perceber o parentesco da marginalidade da obra "afro" de Vinicius e a marginalidade do rap.

Ainda no ano passado apresentei a comunicação "Ressonâncias: dos afro-sambas ao Metá-metá", no 2º Congresso Internacional do Samba, no Rio de Janeiro. Lá eu fora alertada por meu colega citado no artigo, Rafael Galante, de que os Metás não apreciavam muito a aproximação que eu estava fazendo. Eu já o sabia. Desde a descoberta do álbum, que aconteceu durante a pesquisa dos afro-sambas, eu o ouvi com muita paixão e entusiasmo e pesquisei muito as entrevistas e resenhas espalhadas por aí sobre o trabalho de Juçara, Dinucci e França. - Não fora apenas eu quem percebera um diálogo que atravessava tempos e gerações. O artigo, também publicado aqui no blog, procura aproximar, mas também, e sobretudo, justamente apontar as diferenças entre não apenas as sonoridades, as propostas, mas também dos tempos históricos distintos. Essas diferentes estruturas de sentimento.

Grande parte da sua argumentação, compõe o ensaio sobre "Lamento de Exu" presente na dissertação e também publicado aqui no blog. Ali, a brisa no entanto é maior e mais ampla já que o ponto de partida é a última faixa do álbum - que duvido muito que vá aparecer no repertório dos shows dessa semana justamente porque é onde o choque entre as concepções ficam mais evidentes: enquanto Kiko e Juçara lançam seu primeiro disco juntos com o nome Padê - em clara referência a Exu, Baden Powell relega a ele um lamento, sem letra, no final do álbum.
(isso porque à época da defesa eu ainda não comentara o Metal Metal em que Exu é louvado em iorubá na abertura do disco!).

Aliás, se intencionalmente ou não, Metal Metal é quase um anti-os-afro-sambas. Explico: além de abrir com Exu, que não se lamenta, o disco dá continuidade à proposta do primeiro álbum de ultrapassar as narrativas dos orixás mais conhecidos, como Baden e Vina fazem entoando Iemanjá e Xangô, explorando sonoridades que extrapolam o samba. Se em "Tristeza e Solidão" o babalaô  - figura já extinta no Brasil - é citado para curar um coração partido, a canção "Orunmilá" traz a própria divindade da profecia, em cuja letra há o empoderando o sujeito "Se o/presente já morreu/Um segundo atrás/Quem matou fui eu", assim como em "Obá Iná", de Douglas Germano, presente no primeiro disco dos Metá, já tínhamos um devoto de Xangô que sorri em "vez de se curvar"
E fecham emblematicamente com "Tristeza Não", de Itamar Assumpção. Túlio Villaça mesmo já disse que os afro-sambas poderiam se chamar "amor e dor", visto as inúmeras vezes que o par dialético aparece na lírica das canções. Metá Metá canta como quem resiste dizendo que tristeza não.
Se eu disser que discordo de Vinicius e sua dialética do "amor e dor", vou estar mentindo (e haja dissertação pra contar por quê). Mas consigo ler esse "Tristeza não" ecoando, por exemplo, nas justas e criativas intervenções que aconteceram em Belo Horizonte no mês do centenário do coletivo "obscena agrupamento independente de pesquisa cênica"  que dentre muitos projetos fizeram o "remexendo vinicius", conversando-atualizando-crítica com/a obra do poeta. Numa das intervenções na Praça da Liberdade elas pedem "Sem Sofrer".

Mas são as travessuras do menino Exu. 

De tanto marcar território, Juçara e Kiko estão aí nesse show que por mais que não seja só Vinicius e Baden, os contempla como centro da órbita.
Eu concordo com um crítico musical contemporâneo dos afro-sambas, Juvenal Portella, que discordava de Vinicius de Moraes quando dizia que os afro-sambas era um ponto final, mas sim um ponto de partida, um começo fecundo. Se ele assim o era, Exu está ali, ao final, abrindo caminhos. "A intenção do autor é atropelada pela força da obra." para me citar, a partir do texto da conclusão da dissertação, cujo excerto segue:

"O próprio conceito criado por Vinicius de Moraes, aparentemente, de modo espontâneo e sem grandes pretensões ao gritar para Baden: “Poxa, Badinho, esses são os afro-sambas!”, se visto a partir de onde olhamos, extrapola as intenções do letrista. A cisão do hífen e a sua aparente redundância: Afro e o Samba. Uma cisão que é inclusiva. Ao separar, amplia-se o movimento. O hífen aponta para o destaque do samba – o gênero debatido, defendido, autêntico, mas também para fora dele. O samba pode ser mais que os orixás. Afro pode ser mais que o samba.

Por um lado há o destacamento do samba do afro. Salientar que o samba é “mais” do que a influências africanas, o papel da classe média (branca) urbana na construção do samba como um representante legítimo da brasilidade mestiça. Do samba que vira samba-canção, bossa nova.

Mas há que destacar que o afro do samba é também uma possibilidade de libertar o afro da ideologia de conciliação de classes que foi construída concomitantemente à afirmação do samba como símbolo nacional de um país mestiço.

Desta forma, destacar o afro é um movimento que ultrapassa a própria intenção da criação do conceito, fazendo eco com os processos de reafricanização e valorização das narrativas afrodescendentes. É o anúncio de que um afro começa a questionar a ideologia da mestiçagem.

Um afro que fala a partir de sua própria voz, uma voz que quer fazer ecoar as vozes de seus ancestrais míticos. A música é um dos elementos mais fortes de laços entre essa imensa nação filha da diáspora negra. As sonoridades da diáspora africana costurando uma forma de identidade pan-americana.

São os orixás cantados hoje não apenas ao som do samba, mas do rap e do afrobeat. É como ouvir Criolo e Kiko Dinucci cantando “Mariô” - um rap sampleado, com atabaque, cuíca e cavaquinho. O refrão é cantado em iorubá, como o título, “mariô” – folha nova da palmeira de dendê, presente na mitologia do orixá homenageado, Ogum, que constrói e destrói, mas preserva os lugares marcados com mariô. O rap de Criolo vai da roda viva de Chico Buarque à louvação deste movimento afro, que é mais que samba, e mais que Brasil: “Atitudes de amor devemos samplear/ Mulatu Astake e Fela Kuti escutar”.


O descompasso de tempos, com temporalidades em contraponto, Vinicius de Moraes quis que os afro-sambas fossem a resposta definitiva e, entretanto, construiu um álbum ensaístico, muito mais do que ponto final, um ponto de abertura às mais diversas (e inimaginadas) possibilidades.

A ética e a estética dos afro-sambas expressos na lírica dilacerada de Vinicius de Moraes e no trastejo violonístico de Baden Powell, reverberam-ressoando formas e sentidos em aberto e coam no tempo que insiste, porque existe um tempo que há devir."  (MORAIS, Isabela. 2013, p. 234-235. mimeo.)



E que venha o show. 
Afro-Sampa. Justo Sampa, de São Paulo, que um dia, mesmo arrependido depois, Vinicius de Moraes jurou que fosse o túmulo do samba...