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terça-feira, 5 de novembro de 2013

só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão.

cada vez que estamos à beira do fogo, transformando a matéria com a força de seu calor. Ver o talo virar caldo, remédio que cura. Ver o cru virar cozido. O caldo virar doce. A folha virar xarope.

cada vez em que nos encontramos e falamos da vida, partilhamos nosso suor e sentimentos.

cada vez que o vermelho nos escorre. seja em dor. seja em negação. seja em aprendizado. seja em dúvida.

o arquétipo de mulheres que se sabiam parte do mundo. da natureza. que com sua colher de pau curavam e operavam milagres.

cada vez que uma segura a mão da outra pra hora do parto.

cada vez que o sexto sentido grita e acerta.

 - mas  dizem que a gente não pode.
dizem que a gente que é louca.
dizem que a gente nasceu pra cuidar. que a gente não é dona da gente.

[estão no mesmo meridiano do corpo o ponto da sexualidade e da esquizofrenia.]

estamos dentro. fora. adiante. e aqui é dentro. é fecundo. é fundo.
é água.

mas também é fora, é ação, é sol. é leve.

e infinitas. como o grande tempo. no grande espaço de sermos todos um conectados.

ressuscitai o espírito do poder do feminino e celebrai seu vermelho.
ou ao menos, o mínimo, que não percamos a dignidade nesse mundo cheio de dor, preconceitos, medos, injustiças.