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domingo, 1 de fevereiro de 2015


para Mariana Campos.


uma passarinha feito milagre de deus
pousou na minha varanda
assoviou serena cantos trazidos dos céus
veio, alimentada de si, alimentar os seus.
a passarinha que fez ninho próprio na ninhada
avoa agora quando quer
e feito um trem
pega a estrada
semeamos no estar e permitir-se, agora
cantos pensados outrora
bondes sonhados outrora
tudo prestes a ser a aurora
u'a passarinha, que tanto ouviu fica
agora vai
avoa
silenciosa
precisa.
o cheiro vinha da varanda. insuportável. não tinha ninguém lá. estava há algum tempo na frente do espelho do banheiro tossindo, arrotando, excretando por todas as vias um fétido arrependimento de ter acendido um. há semanas não queria pensar. quem dera fosse. demorou pra atinar que o cheiro vinha de casa e vinha da varanda. ainda atônita, fechou a torneira e saiu ainda meio cega e zonza. na varanda a lixeira, toda incendiada havia tombado nas caixas de papelão esvaziadas da recém-mudança. aquilo já era uma fogueira e por milésimos de segundos era a coisa mais abençoada daquela quarta-feira cinza. rezou. fechou os olhos e meditava enquanto o fogo aquecia aquele gelado verão maldito. abriu os olhos e ignorava que as labaredas ganhavam força e rumavam à porta de madeira antiga. chegou perto do fogo, estendia as mãos. lembrou do cigarro, que jogou displicente, quase pela metade, na lixeira. era ele. acendeu um cigarro como quem abre uma porta que não se deve. uma vez entreaberta, espiava e já não queria mais ali estar. sai correndo, mas a deixa assim. aberta. era fogo na certa. deu meia dúzia de tapas na cara quando pensou que o apartamento não era seu e saiu em busca de água. a chama era grande. encheu o balde, mais 15minutos não haveria água. era bom que desse. pesado demais, a água vinha tombando pelo corredor até a sala e na varanda o balde já estava pela metade. mirou e jogou. a labareda se conteve um pouco, mas no mínimo uns 5 baldes daquele seriam necessário pra contar o incêndio da casa.
enquanto ardia pensava que sempre teve mesmo dificuldades em terminar histórias. era sempre assim. elas acabavam com ela.