Páginas

terça-feira, 19 de novembro de 2013

da maior importância

vá embora, vá.

sentamos então nas banquetas das memórias. enquanto falava dos rancores que nos perseguem, havia o interdito de estarmos ali - fantasmas de um mundo que não veio, numa festa de um futuro tosco, que nos amedronta.
me mostrava os prédios antigos como quem quisesse tocar um rosto, se ver novamente no papel, nos pequenos e certeiros traços que a academia aprisionou e condenou ao esquecimento.
Ressentidos: um vendendo os pecados, o outro comercializando sua descrença.
Depois das viagens astrais, aurais, resta o estar condensados, tateando sentidos.

na calada da noite fria, houve o momento do silêncio que grita. o álibi das mãos eram o olhos que encantados distribuíam levezas.


Foram atropelados no meio da rua deserta. cada qual com uma versão diferente:
 - foi a pressa do teu passo
 - foi o balanço das tuas mãos, das tuas ancas
 - foram as luzes do caminhão.

Acordados, de olhos fechados. hipnotizados de olhos abertos. nada do que se dissesse poria fim à agonia. nem remediaria os hematomas dos tombos.

num só golpe, foi feita então a oferenda: borramos o mapa com percalço, procuras, com guache, com suor. ríamos. e entre nós a distância incontida do retorno. a lógica eram os borrões de tinta num quadro de cores primárias meio pollock, meio jazz.

me cansei do abstrato concreto e engoli você, então. sua confusão, mastiguei sua falta de sentido pras coisas. engolia a sua letra maiúscula de Moça, seu adeus-até logo, sua ironia, acidez - sua carência inconfessável e infame.

Afinal de conta éramos os mesmos ali. enfeitiçados e enlaçados por pontos distantes das mãos. um, morto de certeza. outro, doente de dúvida.

- engulo eu. vomita você.
zonzo, enauseado, você se aproxima. vomita minha desconfiança, minha insatisfação, meu ciúme, meu ego. vomita minha cara de tacho, minha farsa, meus trocados.

Fagocitados pelo vazio, nos despedimos em silêncio. Num encruzilhada, como havia de ser. 
misturados. atônitos. comovidos de indiferença.

baixada a poeira escondida/arrastada pelo vento, debaixo do tapete do tempo
reafirmo meus passos e minha fé
ao responder as perguntas
que você não me fez.


Quem ouve sua voz
Diante dessa voz
Parada entre nós
Reconhece
O som
Permanece
Som
Afogado
Antes de virar
Felicidade
Prende todo o ar
Quem pega sua mão
Nos dedos dessa mão
Mergulha o coração
Condenado
Ao céu
Mais nublado
Põe
Assombrado
Frente ao azul
O mais azul
Azul de um céu imenso
Cadê você
Pra me levar
Cadê você
Pra mergulhar
Na areia, na manhã
Os pés e as mãos
No lado escuro
Do meu coração
E quando meu cansaço
Cair de cansaço
Daí vou saber
Se era mesmo
Você
Se era tarde
Ou
Tempestade
Que passou sem ver
Sem nem dizer
Se ainda vai voltar
(Tempestade, Passo Torto)