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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

santos

"e ela que não falava uma só palavra em português, fazia pexinxa na feira"

esse é o trecho de uma carta italiana que nunca se viu. aquele Negro sentado ali na sala a reconta, feito um griô, de braços dados com as gargalhadas que ecoam por gerações, desde o norte da África, atravessando os litorais europeus, desembestando nas paragens entre ilhas vera cruz. Muitos de nós se hospedaram aqui.

Aqui, do lado de lá, tem porto. Embarcações carregam saudades, mercadorias, esperas. Ao bel prazer de quem fotografa com as lentes da memória, calha a melancolia ou a beleza, - há de haver tempo em que elas não vão andar tão juntas, ou quiçá, não sejam as melhores companhias uma da outra...

O riso do Negro é entrecortado pelo do Japonês que revisita a terra pisada. Eles rememoram a si mesmos enquanto contam causos. Um das ruas que não têm travessas, do ar que é condicionado, dos presságios de uma leoa com saudades que, em anos, descumpriu a regra e se arrependeu. Das estrelas se promete não mais falar pra decifrar os comos e quandos de si e dos outros.

O vento sopra e desenha a água no céu.

Jardim de areia, oferenda, mar de gente. Pipocam entre corruptos e bolachas, rosas brancas, vez ou outra vermelhas ou amarelas. Entre os passos que só procuram o caminhar, todo um povo de riso, de ancas largas, de pouca roupa, de cabelos pintados em ovo, em sal, em suor. - pula três ondas, faz sinal da cruz com a ponta do dedo de sal. Obstinadamente pequenos constroem seus castelos de areia. As nuvens passageiras no ar desenham o pôr do sol. Os dois amigos compõe: roxo e amarelo.

As vidraças dos prédios tortos se despedem do sol. As ondas largas em laranja iluminam ainda lá no alto a ponta do algodão doce gigante.

Os semblantes cheios de fé levam botões e garrafas, olhar de entrega, súplica ou puro encantamento.



O mar.

Azul de sua tarde - Martha Barros




Andrógeno abraça e acolhe os pedidos, leva e lava o que tem que limpar.
Em movimento, os cabelos de espuma acariciam os pés.

 abensonha, amadrinha, amansa, enlaça.
os amantes se entregam à vontade de estar e superar. se beijam, se olham. se molham. se lançam.

tem branco ao redor. tem batuque. tem luz. tem conta. contagem. regredir jamais.

o olhar mira o horizonte entre ilhas, palmeiras que não se vê, trilhas que não existem:

"é bonito esse lugar."


em instantes, tudo já era de novo o que era e o que pode ser, assim, ao mesmo tempo.

Na cozinha, a barra da saia da baixinha, que se assusta com o levado que, como em todo domingo, a assusta. Não era mar. Mas também tinha nome de Santo. Na cozinha, quente do forno, a promessa de quentura no coração.

 - do alto ela se ri toda, não mais pequena, mas imensa e espalhada por todos os poros das lembranças dos seus.