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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

música serve pra isso.

"sua vida É um espetáculo, Isabela." - ou era algo como "em constante performance?" - algo assim eu ouvi de um grande amigo meu. grande amigo. e não é lá algo muito fora da realidade. Desde que o Salsicha tinha espalhado pras duas turmas que eu cantava vira mexe eu ouvia "canta no fim da aula", "hoje você vai cantar né?". e eu sempre dava um jeito de simplesmente não tocar no assunto pós-roda de avaliação. eu então pensei em fazer uma surpresa no dia da formatura: levar um violão e cantar direito. mas eis que no meio do caminho tinha a rede globo. resolveram filmar o trampo da ong em que eu trampo praquele programa sobre ações sociais que ninguém vê mas que passa sábado de manhã. -  e a gente sabe que existe.
o pedido foi: por conta das gravações, adianta a atividade com violão pros meninos. well. não o fiz. pensando agora, uma idiotice imensa não ter feito - teriamos atrasado a colagem dos cartazes e não precisaríamos tê-los destruído para remontá-los. quem disse que adiantou. Kelvin veio já enfático e no começo da aula: você vai cantar né? - canta "Pais e Filhos" do Legião Urbana.
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Essa foi uma das músicas que eu cantei quando levei o violão e não fui tonta. encerramento da oficina de literatura com o grupo de dança. cantamos em coro. eu engasgava. sempre engasgo. quando tô tocando violão é mais fácil. o coro embala e eu me concentro nas cordas. quando é a capella o choro parece que me vence.
com os meninos do núcleo-luz houve toda uma história recheada pelas aparições do Legião Urbana durante as aulas. A relação canção e roteiro de cinema; o (excesso?) de citações de canção em 'Somos tão jovens'; o lançamento dos filmes; o episódio quase vivido por mim e testemunhado por dois aprendizes sobre o dia que a livraria cultura faria uma exibição gratuita de "Faroeste Caboclo" com direito a debate com os protagonistas no fim.  - a fila era quilomêtrica e isso não é um exagero. muita gente. da sala se encher e ultrapassar o limite do suportável e globais saindo pelas portas do fundo em plena paulista pra se proteger da multidão. - cinema, de graça. na rua. well.
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por outro lado, na emef cidade de osaka, em são mateus,  'pais e filho'  liderava uma lista de músicas, o "top 10" das canções preferidas da turma da tarde. eleição feita pro fanzine que contava com whitney houston, los hermanos, beirut, pitty dentre outros. e kelvim queria era aquela.
- aquele era o dia sugerido pra levar o violão. naquele dia contei pra eles da ida da globo.
e se de manhã eu estava dando conta do fogo da contradição queimando por dentro, a turma estava radiante por estar na tevê exceto pela exigência da diretoria de que todos usassem uniformes. - comoção geral. mas por fim eles se convenceram.
à tarde foi mais difícil. ao ouvir "globo" a gente ouvia repulsa feroz e apaixonada. - o uniforme quase que conseguia ser de menos. eu disse "quase". - "eu sou contra a uniformização. eu não uso uniforme. isso é o que eu acredito." - "você pode não vir".
o que eu ia fazer? eu, na condição deles, faria a mesma coisa - não tô dizendo lá atrás, há 12 anos atrás. digo hoje. nos dias em que eu brigo com as pessoas que passam no sinal vermelho.
como pedir pra eles gostarem daquilo? - eu não gosto! foi difícil.
princípio de contradição da existência.
a aula foi uma bosta. eu mal conseguia interagir com os meninos. ao fim, eu puxei a roda de avaliação e conversei com eles. pedi desculpas pela bédivaibi, que tava difícil, eu não gostava de ficar daquele jeito com eles, principalmente no nosso último dia e que eu tinha que cumprir com um  pedido que haviam me feito "mas vocês precisam cantar junto, viu?"

estátuas e cofres e paredes-pintadas (ninguém sabe o que aconteceu. - ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender)

(não consegui disfarçar dos meninos a carência e a saudade do meu lamento "eu moro com meus pais... não mais)

 -e sim, eu choro. porque viajo anos com essa música sempre.
eu lembro cristalinamente, há muitos anos atrás, dentro do carro - quando o Bruno nem dirigia ainda - eu perguntando pro meu irmão: "como assim? ele cada hora mora num lugar? com a mãe, na rua...?"
"é liberdade poética, gorda. poeta pode tudo".

anos mais tarde, era ele com o violão à colo, eu, minha mãe e meu pai cantando com ele e a turma dele de terceiro ano lá no centro cultural "é preciso amaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAaaaarrr".

 - antes de cantar eu contei pra eles que eu tinha planejado cantar pra eles na formatura, mas que não ia rolar, porque a globo ia, etcetcetcetc. que ia ficar mais careta a coisa.
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eu e o salsicha temos uma capacidade incrível de cantar pérolas do cancioneiro. despreocupadamente. infinitamente. here there and everywhere. enquanto a gente pregava os cartazes foi de tudo "lá vem o negão, cheio de paixão" - a gente veio com "maracangalha". eu infectei o resto do pessoal e, de repente, a gente tava discutindo porque manonas era um clássico e porque eu aquela outra banda, que eu nem sei o nome, não. "é porque eles morreram." - e eu me contendo pra não discorrer sobre toda a minha teoria do riso nos mamonas!rs
infectados por música. assim a gente se comunicava. descontraía. tava absurdizada com o cara que botou um senhor rockpesado em pleno almoço da criançada. eu pirei. os meninos já são agitados...rsrs toda tia. rs .entre a chegada dos meninos no refeitório-salão-de-formatura passou gilberto-gil via paralamas do sucesso numa versão mais rappeada que nunca, com violão-de-acústico-mtv ao fundo, o rappa evocando jorge ben: "temo cabelo duro somo black pau".
***
e começa a coisa toda. os meninos fizeram discurso né?o da manhã já me arrancou lágrimadozói. o discurso da tarde era uma verdadeira surpresa. o jogral das isabelles com andrew culminava em nada mais nada menos do que um fim assim, ensaiado: mas peraê? acabou?"

 - é preciso amar
as pessoas como se não houvesse
amanhã.
porque  - 
se você parar
pra pensar - ... na verdade
não há.
Registro do discurso de Izzy, Bug e Andrew. "não está faltando alguma coisa?"
~ MÚSICA ~

(serve pra isso, porra.)

na volta da formatura, sem carona, encarando mais uma vez a odisseia da volta no transporte público de são mateus pra cá, a alegria-leveza era tanta que eu e o André cantávamos leves, alto e com direito a coreografia na perua lotada: "sabe, tchurururu que tô louco pra te ver... oh yeah".