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terça-feira, 7 de julho de 2015

ou nada


umas três ou quatro vezes eu tentei em vão te mandar essa mensagem. não foi. não vai ser agora. mas que-se-foda. tem que sair. sair porque eu não morro mais de poema preso. não hoje. não mais. fico agora vomitando nas suas arestas, nas suas frestas, nos seus pesares, nas suas ausências. vomito. e saio depois ilesa, passeando nos trilhos do acaso. onde é que nós paramos mesmo? na alameda dos sonhos? as árvores da rua cinco? cores, luzes verdes, massas, manjericão? éramos nós naquele retrato na parede do casebre? ali onde passa o trem, onde se chega e de onde se parte, as casas estão vazias, se não destruídas, à venda. e não há vendas, mercearias. não há resto de coisa alguma. minto. há o peso do que se foi. do vazio. do preenchido de outrora. estou roendo as unhas e nem se quer me lembro que, na verdade, é bem isso mesmo: são os hormônios e não há nada demais nisso tudo. logo passa. sempre passa. eu vi. senti aqui. na estrutura do corpo. cada sensação. seu sexo na minha boca, tua ferocidade em me mostrar que ainda sabia como fazer... e tuas promessas embriagadas de amor eterno, examinando delicadamente como é que eu me dou pra outro alguém. ali, do outro lado do vidro. preparando o bote. não, não é de hoje que eu sei disso tudo. mas é que as nescas, as camadas, os pentes, os sustos. não sei. meu murmuro. estou de ressaca desses corpos, dessas mãos todas em mim. foram muitos lábios, noite passada. fui muitas. e há tempo quero ser menos. às vezes nem ser. nem sei.