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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

sobre 'contíguo' de Danilo Gusmão



de como e ainda com tanto amor,
ainda dou de barato
com esses companheiros de vida.






no avançar das páginas, cada uma das vozes se faz clara - mesmo que entrecortadas de preto e branco - negro suor.

Aline contou do cão, do cimento, do andarilho, espasmo.
Galvão percebe o cronista - atento-olhos-ouvinte e o duvidoso poeta, certo da batalha que trava.

muitas vezes não entendo, Danilo. - o que é bom.

Os espaços entre as palavras. . .

às vezes ele olha tão de perto (de tão perto) que cega a minha rapidez. que sorte ele cravado aqui.

ontem ele estava feliz de ouvir que seu livro-parto-palavra-rabisco deu tesão em alguém.

Eu me rendo: eu me detive: eu me assustei.

A poesia de Danilo me pegou desprevenida, lendo-a aqui, nessa poltrona em movimento, nesse verde-azul das montanhas.





- encontrar o sentido de título amarrado perspicaz à despedida sem ponto final. costurado(s) na alma de cada estrofe a dedicatória - e quanta sorte eu saber ver gente por detrás dos nomes próprios.

As citações precisas. Dan presente no Danilo. do verso em canção e também o caminho in-verso.

sem a melodia que embala, por pouco não se percebe a letra da canção, ali. mas o papel canta.








"grito na medula": o encontro do cão e do poema, nos esbarros e cacos da cidade grande. Nuno Ramos e Rômulo berram nas páginas pretas. E Dona Inah ecoa por onde o olhar para. olhar o cão. o detalhe. olhar a nós mesmos: sobreviventes da cidade cinza. mas,
 "sobre
                                                                              viver
                                                                              mata"

de como dou de barato. o geminiano besta de coração grande que não sabe como se apresentar na orelha de seu primeiro livro, é um homem imenso nas linhas (d)escritas. pariu um livro prenhe, bem pensado.
e revela, desvela, desnuda a cada um que se aproximar pra ver. ler. transpirar.
(este livro guarda versos que ainda cantarei)
até a minha declaração de amor ele me antecipou nos seus versos.

café







- então,
(pr’onde que o barco vai quando deixa o cais é de não saber pra gente que fica, que é cais. o cais da gente deixa margem pacata se pegar mais perto sem poder molhar. seca. a saudade que forra o nós um se arrebata e é feio falar. mas se fosse de fica-calada, quieta, guardava. é peito forte que escora esses corações, desses, assim. agüentam. o ocaso é cedo, o acaso é certo. se espalha pelos estreitos. é de muito as estradas na ponta da proa do se ser, num mar. e é carecido de fazer caminho um só que cante, estreito.  só que é de duas mãos, dadas, que o caminho prossegue. faz que não vem, mas vem. deixa. bota esse café na mesa. capricha num não dizer bonito de o dizer o quanto é de nem contar. recolhe meu ombro do olho e acolhe o meu pranto. nem santo que sara. padroeiro que guarde, nenhum. já é hora, meu bem. levanta dessa cadeira e clareia esse sol que é de nuvem. cala o agouro que o tempo se cansa em fazer de minuto. é canoa. teima de ir pra sem voltar. podendo voltar. se cansa. já é tempo de remo. deixo de fé. quarar num esmo assim de qualquer é dó. é céu, é mar que invade a gente e leva. passarinho que assenta na dobra da beira e fica. mora lá, castanho. vê se apruma do fundo. rodeia o ao redor. radia. aquenta o calor que as colchas lhe prestam. de volta: que é porto.)
sinto saudade.

- também,


(roberto me disse, mais cedo, enquanto fitava a janela, em busca de pássaros, que seu pai um dia lhe falou pra nunca mentir. roberto, depois, disse que seu-pai tinha se esquecido de lhe dizer a verdade. depois. a roberto eu dou ouvidos miúdos, atentos. tímpanos íntimos. verdade é calada, de aptidão inata ao sigilo. não é costume o seu dizer. é prélio de dentro, peleja de sem-findar. assombra o cerne do interno, o imo: de dentro. sofrimento não. esse é brado, clamor de fundo. meus sofrimentos são de fazer peito, qualquer que for, menor. guardados se atamanham, graúdos. abundam pra querer sair. quanto do não dito se asila num só silêncio sem talhar, lavrar. indizível. quanto passarinho numa beirada de estação, primavera. entremeio de dois tempos. difícil é sentir e ser ao mesmo tempo. pra sarar agonia que for: é verdade. pra estio, invernia. andorinha voa de primavera à primavera, maior que qualquer que verão-inverno. pra se não ter pesar, dizer: primavera. aflição desaflige quando sai. pelo menos apazigua. serena é agonia que deixa crisálida. borboleta: passarinho. primavera. menina, me nina no teu cinjo de volta. me abrange. perdoa. bobeira minha, sem ter de-. é tento agora. é tempo de aprumo. verão você, invernia de mim: maio-flor. horizonte amaina pra retina pouca. majora quando dois, companhia. quando somos. sejamos.)

amor.


híbrida síntese indissolúvel.

p. 113-115
GUSMÃO, Danilo. contíguo.

ou tudo de velho de fora e de novo aqui, ó,