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terça-feira, 1 de julho de 2014

argentina: você na cabeça.

fui pra Argentina escondida da minha mãe. é. ela jurou que estava em Barra do Una. Com alguns putos no bolso, bem acompanhada, com violão e muita reza, encaramos estradas, dormimos em postos de gasolina, recebemos ajuda, cruzamos fronteira.
E mítico... como o primeiro lugar em que passamos uma noite em território argentino após cruzar o caos da babilônia paraguaia e toda a sua tranqueira pelas ruas, se chamava nada menos que Eldorado. é. Eldorado como o paraíso do Cândido, de Voltaire. é. ganhamos frutas bonitas de uma brasileira no primeiro lugar que paramos pra pedir informação, fomos parar num parque público, recebidos por um velho cuidador de um museu, que nos deu mate e teto.
Argentina nos abraçou. e me lembro bem de que foi um janeiro em que ela abraçou vários de nós: lazinho, chester, mery, dj, angelinda e tadeus. muitos desses se encantaram foi lá pros lados de Mendoza. - que dizem daquelas frutas e daqueles campos...
Nós não. Fomos até BuenosAires e voltamos. Como atingir o pico da montanha e descê-la em seguida. A melhor lembrança da capital foi como adentramos suas fronteiras num domingo-fim-de-tarde: congestionados os postos de pedágios se renderam às buzinas insuportáveis e ininterruptas de todos aqueles veículos e abriram suas cancelas... ah! o poder do coletivo...
mas não. a melhor lembrança foi sacar que garota de ipanema até atrai gringo na rodoviária, mas na praça da cidade o que se quer saber é de lembrar dos mortos, celebrar a vida e não deixar de lutar.
a memória arde na pele e no canto. E foi num Trem Azul - olha que ironia - à caminho de casa, em algum momento das mais de 24horas que passamos na parte mais barata dos vagões, se deliciando com as
maravilhas caseiras, vendidas por famílias a cada vilarejo de parada, foi ali, num Trem Azul que conhecemos um casal, que como nós, tinha a música como algo em comum. Cantamos a eles nossas canções e ouvimos as deles. Canções belíssimas sobre memória e luta, como quem faz uma balada-de-amor-qualquer-mela-cueca. assim. simples.
Eles se mostraram de uma felicidade incrível em saber-nos brasileiros e disseram que gostavam da música "mas não do sertanejo" - como pudemos percebê-lo popular entre os motoristas de caminhão...
mas os olhos brilhavam ao falar de Caetano Veloso, Marisa Monte...

Lembro como se fosse hoje que cantar Velha Infância e Sozinho - na versão Caê - nunca tinha sido tão cheio de sentido e com tanta beleza. Aqueles olhos brilhantes ouvindo aquilo deixam a gente cheio de inspiração. Assim, entre um vagão e outro, com sol e vento na cara.

E ai... não me venham então dizer pra não torcer pela Argentina. Faz favor, vai? Não digo nem por conta do futebol, mas sabe? não tenho motivo algum pra implicar com aquela gente. aliás, eu só aprendi com cada uma das pessoas que cruzei por lá, mesmo nos momentos mais angustiantes - Santo Thomé que o diga.
Sabe? Simpatizo com essa gente que tá tão perto - e ao mesmo tempo, de tantas formas diferentes - tão longe da gente.