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domingo, 12 de maio de 2013

Flanemos!


Era carnaval e o Leo me marcou nesse escrito, desabafo, poéticoemprosa, num vômito em samba do que somos e podemos ser de forma tal que foi arrebatador.
Eu tinha acabado de gravar "Manifesto" de Leandro Silva de Oliveira e ali mesmo no post eu escrevi "é esse!". Leo é um escritor de mão cheia, de alma inquieta. Solta os versos nas pequenas reflexões cotidiana, como quem os tecesse apenas na displicência do cronista-poeta-do-dia. Mas ele forja os versos cuidadosamente, secretamente e por vezes somos brindados com postagens que as vezes se perdem no feed de notícias do livro da cara. Dificil achar o 14 de fevereiro no caos do homem que posta charges, críticas, notícias e música da boa. de humor ácido. e de sorriso imenso.
gratidão pela partilha. pela amizade.

a leitura tá aquém do texto. (Ouça aqui, ó: Flanemos!)
mas as palavras vivas foram sentidas e pensadas.
ele se fixa nessa leitura, mas ressoa e reverbera no universo.
porque SÓ AÍ é que o batuque faz sentido.


"Flanemos ao som de samba, suor e cerveja. Pelos quatro cantos do Brasil a terra se movimenta pelo balanço da síncopa de nossos ares. Viver as multidões é entender um pouco mais nosso movimento. Que seja perturbador, que seja ao ritmo do 2 por 4 marcado no surdo, que seja cansativo, mas percorrer a rua olhando pelos lados e vendo as faces rubrosas, febris, com sede, paixão e desejos, é um contorno para uma possível esperança. Que logo se esfacela fugaz numa quarta ou deixa uma brasa silenciosa que vai se reacender ao som de outros batuques, gritos incessantes e vidas verborrágicas. Só aí é que o batuque faz sentido. E pra tanto fazer é preciso haver multidão de peito esturrado, de peito sentido e não conformado. A solicitude aparece no reconhecimento e não na diferença que fingem respeitar, mas querem marcar na testa do cabra - porque alguns são marcados pra morrer e outros acham que irão continuar, embora seu vocabulário raso e caras absortas de camisas de forças nunca entenderão o flanar. Lado a lado: "Uma cachaça, porque a vida tá uma merda de boa!" - gritou estonteante o morador das esquinas vazias. "Uma vodkinha pra vida ficar melhor - disfarçando entre boca e pensamento - e pra eu não sentir muita evolidão dos poros bastardos" - apenas contorcendo os lábios para a amiga de olhos caídos.
Quando o poeta dizia: "Eu quero é botar meu bloco na rua" o verso intrusivo já marcara seu território para além-tempo. Aquém, não é só na esbórnia do corpo. A esbórnia da alma exige muito mais desprendimento, mais desapego com os olhares angulados que cortam as nuvens sem saber que há um horizonte. 

Rondam nossas jaulas, mas pela força da síncopa nos abraços, nos risos, nos tatos, no nascer de alguns impávidos - como Mohamed Ali - virá algum bloco que fará um samba tão torto, tão torto, que irão desconhecer, estranhar e farejar. No farejo verão que há tamborins e vozes, vozes, vozes, sem nenhum maestro. Susto. E assim com destreza de leões urrantes de fome e História sangria encontraremos nossa caça nos gabinetes, nas academias antepostas de música infantilizada, nos prédios murados de alergia do povo, nos latifúndios, no medo de quem não sabe pra onde vai e nem pra onde foi. E assim, mesmo os banguelas, comerão a não-vontade dos sorrisos brancos, brandos e lívidos. A cor das bandeiras ulularão entrepostas em cada esquina pautando as diferenças como crescentes adjuntos, em compasso que o lívido sorriso, agora pobre distorcido e perdido, nunca entenderá, mas olhará do alto de sua janela corroída por um tempo não visto e depois de jogar uma moeda e ninguém se mendigar ou se vender por esta, atirará seus últimos dentes e seu corpo púdico na incineração do bloco. Neste bloco havia 120 milhões, ou muito mais, de crianças no centro da tormenta. As veias abertas foram expostas. Alguns aguentaram, outros sangraram conjuntamente, outros nem viram, outros fingiram. Nossa derrota sempre esteve implícita na vitória alheia, nossa riqueza sempre gerou a nossa pobreza para alimentar o sorriso e o samba apodrecido apropriado de outros. Se não secretas as matanças, secretaremos os vícios de um samba que viciadamente é financiado e entoado sem saber por quais frestas nasceu e entoou seu mais forte poder. Os pés que sangram deixaram e fincarão suas marcas na terra da História até os subterrâneos do poder imposto.
Os cantos estão já sendo entoados pelas frestas da crise asmática da sociedade. Perigas e ouvirás. E...Cuidado com seu sorriso dente de leite."


de Leonardo La Selva
14 de fevereiro de 2013