Vadio e evadido
Vagabundeio só.
Amo a rua torta
E do mar o odor.
Dos muros as mossas,
dos púcaros o frescor
Amo. E as uvas esmagadas.
E do mar o odor.
Vou tangido e raro!
Tangido vou.
Suspenso de ventos
E do mar, pelo odor
Manoel de Barros
O odor do mar invade as narinas.
Os olhos se voltam para a janela em movimento.
Há a neblina
nebulosa cinzenta
paisagem sobre o mar.
Respiro fundo:
como gosto do cheiro salgado do mar!
E respiro mais uma vez, fundo
e mais.
E já não cabe mais tanto oxigênio nos pulmões.
Não cabe mais.
Sorrio.
Afinal é só respirar.
A janela em movimento segue lado a lado
à costa, à areia, ao mar.
Involuntariamente
a maresia vai entrar e me inebriar
Assim será entre nós.
Se minha caminhada beirar teu cais
Naturalmente teu odor
invadirá meu olfato
Mas ao te perceber tão perto
e ao entender que tua maresia me inebria
tanto quanto os mistérios salgados do mar
Eu respiro intensamente,
de propósito
de propósito
E puxo o ar com força
e mais
e mais
e mais
até não caber mais
até não caber mais
E forço
e quero
e quero
até não fazer mais sentido.
É hora de sorrir.
Não há o que temer.
Não há o que apressar.
rio de janeiro, julho de 2011.