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terça-feira, 23 de julho de 2013

Sobre protestos, "baderna", juventude, repressão e jornalismo.

Vale a pena relembrar a entrevista de Darcus Howe para a BBC sobre os protestos que aconteceram em Londres como desdobramento da morte do jovem Mark Duggan e a grande repressão policial nas periferias londrinas. Esta é a matéria deste texto, apesar do título não parecer. Ele foi escrito para a conclusão da disciplina sobre Bakhtin e Augusto Ponzio e a filosofia da escuta, no primeiro semestre de 2012 e publicado neste mesmo ano no livro "A ESCUTA COMO LUGAR DO DIÁLOGO - ALARGANDO AS QUESTÕES DE IDENTIDADE", Pedro&João Editores, São Carlos.


A (NÃO) ESCUTA TELEJORNALÍSTICA

Isabela Morais[1]

Se você disser
tudo que quiser
então eu escuto

Fala – Secos e Molhados

Sobre falar e escutar

            Quando o pensador Augusto Ponzio[2] propõe uma linguística da escuta, muito mais do que uma menção ao dialogismo e toda a arquitetônica bakhtiniana erigida sobre a sua ampla noção de diálogo, o italiano nos propõe associar o exercício da interpretação, estudo da língua(gem) a partir da dimensão do ato ético, afirmando a integralidade do pensamento de Bakhtin e seu círculo onde as categorias filosóficas estão relacionadas com as categorias de interpretação dos sentidos de um texto, unindo forma, material e conteúdo.                                 
            Prestar-se a escutar a palavra do outro é um ato ético, pressupõe uma disposição para a comunicação que se esforça para entender o contexto de enunciação do outro, aquilo que ele intenta em dizer, a partir do lugar em que se situa, único no tempo e no espaço. Ainda que nossas contrapalavras sejam inevitáveis, escutar a fala do outro é ouvir não apenas as nossas respostas às falas de outrem, mas propriamente tentar compreender aquilo que o outro quer expressar, no sentido da sua existência. Por isso o escutar de Augusto Ponzio vem junto com o calar. Calar é o ato ético. Não implica em anular-se. Anular-se é negar a singularidade é ela mesma quem possibilita uma compreensão amorosa dos sentidos dos nossos atos.
            Aliar o ato ético da escuta não é cair a um relativismo pós-moderno de dissolução do sujeito. Todo o ponto de vista está enraizado sócio-historicamente. Ou nas palavras de João Wanderley Geraldi: “é preciso aprofundar a riqueza da diversidade sem cair na insensatez das regras fáceis de que tudo vale, que não há desigualdades a superar, que não há sentidos em circulação e compromissos entre leitores e autores”. (GERALDI, 2010, p. 48).

O (des)encontro de palavras

            Há sim muitas desigualdades parar serem superadas e que, antes de mais nada, devem ser encaradas. Trazemos para essa conversa um vídeo disponível na internet[3] com o excerto do Jornal da Cultura do dia 12 de agosto de 2011, exibido pela TV Cultura e apresentado por Maria Cristina Poli. Com um formato bem peculiar diante dos outros telejornais dos canais abertos, o Jornal da Cultura tem sempre na bancada a presença de dois intelectuais que gozam de plena liberdade para comentarem as notícias exibidas. Além do mais, a intervenção do telespectador é bem quista e de fato intervém no aqui agora do jornal.
            Agosto de 2011 ficou marcado na história do Reino Unido devido a uma série de protestos e tumultos desencadeados pela morte do jovem Mark Duggan pela polícia londrina. Entre os dias 06 e 10 de agosto, o tumulto tomou grandes proporções, encontrando ecos em outras localidades do país. O
vídeo em questão mostra a âncora do jornal iniciando uma conversa a respeito destes conflitos. Dentre as muitas histórias relacionadas aos acontecimentos na Inglaterra, afirma a âncora, está uma entrevista feita pela BBC com um morador da periferia da cidade. Após uma breve apresentação, ela introduz ao vídeo da entrevista que será exibida durante o Jornal dizendo que a apresentadora da BBC perguntara ao entrevistado se ele estava chocado com o que viu nas ruas de Londres.
            Passamos então a assistir a tal entrevista.



 Como de praxe no jornalismo, a âncora do jornal britânico, Fiona Armstrong, pergunta já sugerindo uma resposta “você está chocado?”. Mas os produtores do jornal talvez não contassem com a resposta do entrevistado. Munido de serenidade e clareza, o entrevistado, Darcus Howe, responde que não.
Não, não estou. Eu vivo em Londres há 50 anos e muitos momentos diferentes. Mas do que tenho certeza, ouvindo o meu neto e o meu filho, é que alguma coisa muito muito séria estava para acontecer neste país. Os líderes políticos não tinham nem ideia, a polícia não tinha nem ideia. Mas se você olhar pra os jovens negros e para os jovens brancos e prestar atenção no que eles estão dizendo... mas não ouvimos! Eles estão nos contando, e nós não estamos ouvindo, o que está acontecendo neste país. Para eles...[4]

            É neste momento que Darcus Howe é interrompido pela âncora Fiona. A jornalista parece estar inconformada com a resposta do entrevistado. Ela novamente o interpela, tentando trazê-lo a si, tentando demonstrar o quão absurda é posição de “não estar chocado” com os acontecimentos. “Sr. Howe se você pudesse parar só por um momento... Você está dizendo que não está chocado e nem condena o que aconteceu na sua comunidade na noite passada?”, diz ela.
Howe responde: “Claro que não! Por que eu condenaria? O que me preocupa é havia um jovem chamado Mark Dogan. Ele tinha uma casa, ele tinha irmãos, tinha irmãs e a poucos metros do lugar onde ele mora, um oficial de polícia estourou sua cabeça com um tiro.”
Fiona começa a interromper sua fala novamente, mas desta vez Howe se altera e pede para que ela o deixe continuar. Ainda assim Fiona prossegue. Munida do discurso legalista, a jornalista diz que “é necessário esperar a conclusão do inquérito policial para dizer uma coisa dessas. Nós não sabemos o que aconteceu com Sr. Dogan”. E ela tenta novamente conduzir a entrevista: “Você estava falando do seu filho, do seu neto...”
            Howe, que não parara de falar um só instante, recebe novamente o close do vídeo, o áudio e o silêncio de Fiona e prossegue:

Eles [os policiais] tem parado e revistado os jovens negros sem motivo algum. Eu tenho um neto, que é um anjo. Precisamos começar a pensar. Ele vai crescer, um policial vai enconstá-lo contra parede e revistá-lo, mesmo que não haja motivo e ele não vai ter a quem recorrer. Então penso que alguma coisa séria está acontecendo neste país. Eu perguntei a meu filho ‘quantas vezes a polícia já parou você?’ e ele disse: ‘papai, eu já não consigo contar, de tantas vezes que isso aconteceu’.

            A âncora então afirma que isso não é motivo para sair promovendo desordens, distúrbios, quebrando tudo, como temos visto nos últimos dias. A resposta é clara e enfática: “Eu não chamo isso de desordem. Isto é insurreição popular. Está acontecendo na Síria. Está acontecendo em Clapton. Está acontecendo em Liverpool.(...) E essa é a natureza do momento histórico em que estamos vivendo.”
            Fiona recebe novamente aparece no vídeo e reiteira “O que estou perguntando é se o senhor não está preocupado com os distúrbios, está? O senhor tomou parte dos distúrbios?”
            Darcus Howe indignado responde:
Eu nunca participei de nenhuma desordem. Eu participei de algumas manifestações que terminaram em conflito. Tenha algum respeito por um velho imigrante negro das Índias Ocidentais e pare de me acusar de ser um desordeiro. Eu não estou aqui para ser ofendido. Isso é tão idiota. Tenha algum respeito.

            Um tanto constrangida, Fiona Armstrong agradece a Darcus Howe pela participação, seguindo o protocolo jornalístico e deixamos de ver o rosto do velho negro indignado. A apresentadora do Jornal da Cultura, então, retoma a fala, agradece o telespector que enviou o link com a entrevista e então a banca começa a discutir a entrevista.

Palavra: signo ideológico por excelência

            Escolhemos tal entrevista por ser uma triste ilustração daquilo que o círculo de Bakhtin quis dizer ao afirmar que a palavra é a arena da luta de classes. Esta entrevista nos possibilita também problematizar essa “idade mídia”, como gosta de dizer Geraldi onde:
Usar o controle remoto para trocar de canais, eis a caricatura desta liberdade vigiada, regulamentada, normalizada, em que nos isolamos numa suposta interioridade de leitores-expectadores condenados a ler o mesmo e sua reprodução nas inúmeras novidades que as programações de televisão oferecem, seja esta novidade a passagem veloz de um fragmento de notícia para outro, deslocando-nos todas as noites pelo mundo sem que dele apreendamos a história de sua construção, seja esta novidade o retorno cada vez mais insistente dos mesmos quadros, das mesmas estruturas, dos mesmos risos sobre os mesmos estereótipos, quase sempre preconceituosos. Na idade da mídia, a relação do aparelho de tevê talvez seja a melhor síntese do isolamento do sujeito, apertado pelos círculos que o individualizam e que simultaneamente lhe exigem ser regulado, igual aos outros e autêntico. (GERALDI, 2011, p. 42 – grifos nossos)

            Fica clara aqui a atitude da jornalista em direcionar a opinião do entrevistado. Ela gostaria que ele tivesse dito algo que não disse. A partir da negativa de Howe a âncora tenta muitas vezes mostrar o absurdo que é não ser contrário aos “distúrbios e tumultos”. Esta primeira negativa dele foi o suficiente para deixá-la indignada a tal ponto de não conseguir acompanhar a construção de sua argumentação. Argumentação essa que aponta justamente na direção do que Geraldi aponta na citação há pouco citada, ou seja, explicitar o processo histórico, o meio através do qual os processos se dão.
            Segundo Walter Benjamin (1994) no seu texto “O Narrador”, a imprensa, um dos mais importantes instrumentos da consolidação do alto capitalismo, instaurou uma nova forma de comunicação: a informação, que aspira a uma verificação imediata, podendo ser compreensível “em si e para si”. Se as narrativas da tradição oral são estranhas a essa nova comunicação, também o é a capacidade de elucidar as mediações dos processos históricos.
Na superficialidade dos acontecimentos é de fato plausível que “os cidadãos de bem” condenem carros e prédios queimados, lojas saqueadas. A tentativa de Darcus é associar, entretanto, tais acontecimentos com a crise estrutural do capitalismo, que vem se agravando desde a década de 1970, gerando um desemprego estrutural nos países centrais além da falência do estado de bem estar social e a degradação dos direitos sociais e trabalhistas. Enxergar os protestos enquanto sintoma, enquanto uma resposta a uma determinada conjuntura social.

A metáfora crítica do corpo grotesco e a consciência do processo histórico

Darcus rompeu com o esperado do gênero do discurso “entrevista ao vivo em telejornal”. Geralmente, este espaço é utilizado menos para um debate do que para uma mera ilustração do ponto de vista dos editores do telejornal sobre o fato noticiado. Geralmente se espera uma postura conservadora de um velho senhor diante dos jovens. Uma imagem bastante cara à arquitetônica bakhtiniana bastante desenvolvida no trabalho sobre Rabelais é a ligação entre o velho e o novo, a morte-prenha, a velhice que consegue louvar o novo. Estas imagens estão ligadas ao realismo grotesco. Susan Petrilli[5] considera o corpo do realismo grotesco como uma metáfora contra o individualismo burguês e afirma:

A metáfora do corpo grotesco na sua expressão carnavalesca ajuda a destacar/evidenciar a dinâmica do contraste entre duas visões de mundo dentro da mesma cultura: por um lado, o corpo individualizado e fechado, autossuficiente e isolados em relação a outros corpos, por outro lado, o corpo de protuberâncias e interstícios, situado numa relação intercorpórea,  conectado externamente com outros corpos; e, respectivamente, por um lado, a lógica fechada da identidade, por outro lado, a abertura para o outro com dialógica alteridade extralocalizada. (PETRILLI, 2012 – tradução nossa)[6]

            A postura de Darcus Howe é em si contestatória da ordem burguesa, individualista e de visão fragmentária e a imagem do velho que não nega o novo, mas ao contrário se alimenta dele, está em consonância com ele, numa relação de alteridade e proximidade gera o sentido de crítica e por isso destoa, se destaca, choca.
            Um ponto que merece ser destacado dessa entrevista é o momento em que Darcus afirma que o jovem foi morto pelo policial. Mais uma vez a postura de Howe quebra o protocolo da entrevista. A afirmação convicta tem a força das conversas do cotidiano, todos nós a despeito da oficialidade dizemos e afirmamos coisas a despeito das provas conclusivas de inquéritos oficiais. O discurso legalista de Fiona contrasta frontalmente ao de Howe quando ela o adverte que não se pode falar algo “tão grave” sem que o inquérito esteja concluído. Aqui cabe salientar: não se pode dizer ali, ao vivo, em rede nacional, em lugar social definido. Como já dissemos, nos discursos do cotidiano é possível que aquela seja a forma com a qual este assunto é tratado: o policial matou o jovem rapaz.
            Em seus trabalhos, o sociólogo Loic Wacquant afirma que
a crescente criminalização a que estão sujeitos por toda Europa os militantes dos movimentos sociais de desempregados, de sem-teto e contra a discriminação (...) não pode ser entendida fora do sentido amplo da penalização da pobreza, elaborada para administrar os efeitos das políticas neoliberais nos escalões mais baixos da estrutura social das sociedades avançadas. (WACQUANT, 2008, p. 93).

            O sociólogo francês tem muitos trabalhos em que demonstra que o avanço do neoliberalismo é concomitante a uma política crescente de penalização da miséria e encarceramento em larga escala. Logo, estas intervenções policiais que Darcus denuncia, contra seu filho e os demais jovens negros dos subúrbios londrinos, fazem parte de uma política clara e já diagnosticada:
As agressivas práticas policiais e as medidas de encarceramento adotadas hoje no continente europeu são parte integrante de um processo mais amplo de transformação do Estado, que foi posto em marcha pela mutação do trabalho assalariado e pela reversão da balança do poder, tanto na relação entre as classes como na luta dos grupos pelo controle do emprego e do Estado. (WACQUANT, 2008, p. 93).

Ecos brasilianos

            A ação policial britânica já foi notícia no Brasil quando do assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes em um metrô, alvo de oito tiros.  As justificativas da morte basearam-se na aparência e em “condutas suspeitas”. E conforme contam Roberto Barros e Margaret Mcadam (2005):
Segundo as políticas criminosas do governo britânico, a sorte de Menezes foi traçada pela cor de sua pele. Os amigos do eletricista disseram que Jean havia sido revistado anteriormente pela polícia, além de já ter sido hostilizado por grupos de jovens neofascistas. (MCADAM e BARROS, 2005, s/p)

Não se trata aqui de traçar um maniqueísmo entre os países. A arquitetônica bakhtiniana não nos permite cair na cilada das identidades, que engessam as possibilidades das singularidades e seus devires. Basta lembrar que recentemente o britânico Roger Waters, ex-baixista da lendária banda de rock progressivo Pink Floyd, esteve no Brasil com a turnê do show The Wall e dedicou o show, que é todo permeado por uma forte crítica ao autoritarismo, às guerras e ao individualismo, ao brasileiro Jean Charles “e sua família pela luta pela verdade e justiça e a todas as vítimas do terrorismo de Estado”[7]. A menção a Jean Charles não fora uma mera política de boa vizinhança do roqueiro com o público brasileiro. Não foi apenas nos shows realizados no Brasil que Jean foi lembrado, mas sim em todas as apresentações da turnê. Ao final da clássica canção Another Brick in The Wall pt II, conhecida pela crítica ao autoritarismo na educação, é projetado no muro enorme um metrô em movimento e o ouve-se o barulho do mesmo nas caixas do equipamento de som quadrafônico espalhadas pelo local do show. O rosto de Jean Charles aparece projetado no telão e em seguida sua ficha:
Jean Charles de Menezes
Civilian
Born 1978
Brazil
Died 2005
Stockwell Road
Tube Station
London, England




            Não se trata mesmo de fazer maniqueísmo de identidades nacionais. Até porque se voltarmos à prática que não escuta do telejornalismo, temos um exemplo nacional. Teríamos muitos, mas temos um ainda dentro da conjuntura dos tumultos de agosto, ou nas palavras de Darcus Howe, da insurreição popular. Em vídeo também disponível na internet[8], podemos assistir a um jornal da Globo News entrevistando o sociólogo Silvio Caccia Bava sobre as efemérides inglesas. O início da entrevista (e cabe salientar que toda ela) é bem parecido ao da BBC, o jornalista começa a conversa já colocando seu ponto de vista e esperando uma confirmação do entrevistado:
Bom, Silvio, a gente viu nessas imagens, me parece que o estopim foi o protesto contra a morte do jovem nesse tiroteio com a polícia, mas o contexto social parece ter se perdido, né? O fundamento dessas manifestações. O que tá acontecendo agora, na sua visão, é que pessoas e jovens estariam aproveitando o caos para praticar crimes?

O sociólogo responde, sorrindo: “Não. Eu não vejo assim” e inicia uma argumentação muito parecida com os argumentos expostos aqui tanto de Darcus Howe quanto do sociólogo Wacquant sobre a criminalização da miséria e dos movimentos sociais que se insurgem contra as condições nas quais vivem esses jovens, que sofrem com a presença intimidatória da polícia além do alto índice de desemprego:

Quando morre então Marc, assassinado pela polícia, segundo todas as indicações, não é?, há uma manifestação de cerca de 300mil pessoas, familiares e vizinhos, que vão à delegacia pedir satisfações e durante quatro horas eles ficam lá sem resposta. Quer dizer, eu tô entendendo que o que há é uma falta de canais institucionais, políticos para apresentar demandas e pra encarar uma situação que também tem seus reflexos decorrentes da crise financeira[9].

            A fala de Caccia Bava elucida a falta de voz dessa população marginalizada. O Estado se omite em relação aos direitos, mas é bastante presente no quesito repressão. De forma análoga, é uma tendência da imprensa em não abrir espaço para essas vozes. As duas entrevistas aqui são brechas, de duas pessoas que aproveitaram do momento único e irrepetível e não foram impostoras, não apenas ritualizaram, para lembrar as expressões de Augusto Ponzio, mas foram responsáveis em seus atos e ocuparam seu lugar único no tempo e no espaço e através de suas vozes fizeram ecoar essas vozes que gritam sem ninguém para ouvir.

Exercício da escuta das brechas do singular e seu devir

            Poderíamos ter iniciado nossa conversa falando diretamente da entrevista da BBC, sem mencionar a mediação feita pelo Jornal da Cultura. A ideia foi justamente não cair nas teias tentadoras da generalização, que não nos permite vislumbrar as potencialidades das singularidades em seus devires. Se a atitude dos jornais da BBC e da Globo News converge com a postura recorrente da cultura jornalística, por onde ecoam as vozes hegemônicas da sociedade, a postura do Jornal da Cultura foi diferente, neste episódio singular. No limite, foi ética. Participou do exercício da escuta.

Referências bibliográficas

BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. O contexto de François Rabelais. São Paulo-Brasília: Ed.HUCITEC - Ed. UNB, 2008.
_______. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
_______. (VOLOCHINOV) Marxismo e Filosofia da Linguagem problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 8. ed.  Tradução por Michel Laud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1997.
_______.Para uma filosofia do ato responsável. Tradução Carlos Alberto Faraco e Valdemir Miotello. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
BARROS, Roberto e MCADAM, Margaret. ‘Somos todos Jean Charles!’ Contra o terrorismo de Estado e a escalada criminosa, xenófoba e racista de Blair & Bush. Publicada em 07 de setembro de 2005. Disponível em http://www.pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=4146&ida=0
BENJAMIN, Walter. O narrador. In. Magia e Técnica, Arte e Política Ensaios sobre literatura e História da Cultura - Obras Escolhidas Vol 1. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.
GERALDI, João Wanderley. Ancoragens: estudos bakhtinianos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
MCADAM, Margaret e BARROS, Roberto. "Somos todos Jean Charles!".  Jornal Semanal Opinião Socialista, São Paulo, Ed. 230, set./2005, p.16.Também disponível em: <http://www.pstu.org.br/jornal_anteriores_capa.asp?ed=108>.
PONZIO, Augusto. A revolução bakhtiniana: o pensamento de Bakhtin e a ideologia contemporânea. São Paulo: Contexto, 2008.
_______. Encontros de palavras: o outro no discurso. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
_______. Procurando uma palavra na outra. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
WACQUANT, Loic. As duas faces do gueto. Trad. Paulo Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.






[1] Mestranda em Sociologia/Ciências Sociais pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp Araraquara. Bolsista CAPES. Orientador: Prof. Dagoberto José Fonseca.
[2] Referimo-nos aqui a seus trabalhos recentemente publicados em português pela editora Pedro&João, mas também, e sobretudo, ao curso ministrado entre 12 e 23 de março no Brasil, mais especificamente em São Carlos e Araraquara/SP, respectivamente na UFSCar e na Unesp.
[3] http://www.youtube.com/watch?v=SQ6eI-XWPrM
[4] Depoimento de Darcus Howe, em 09 de agosto de 2011, para a BBC de Londres.
[5] As ideias abordadas aqui estão presentes nos últimos trabalhos da autora que estão em fase de tradução para o português. Tais ideias foram explicitadas durante o curso ministrado no Brasil, mais especificamente em São Carlos e Araraquara, respectivamente, na UFSCar e na Unesp, entre os dias 12 e 23 de março. A autora também nos cedeu algumas anotações em italiano que serão utilizadas aqui.
[6] O texto original das anotações de Susan: La metafora del corpo grottesco nelle sue espressioni carnevalesche contribuisce ad evidenziare la dinamica del contrasto fra due visioni del mondo all'interno della stessa cultura: da una parte, il corpo individualizatto e chiuso, autosufficiente e isolato rispetto alla relazione con altri corpi, dall'atra, il corpo fatto di protuberanze e interstizi, situato nella relazione intercorporea, collegato all'esterno con altri corpi; e, in corrispondenza a ciò, da una parte, la chiusa logica dell'identità, dall'altra, l'apertura verso l'altro secondo la dialogica dell'alterità extralocalizzata.
[7] Fala de Roger Waters durante os shows realizados no Brasil – Porto Alegre (25 de março de 2012), Rio de Janeiro (29 de março de 2012) e São Paulo (1º e 03 de abril de 2012). A reprodução da fala está disponível também nas seguintes reportagens:  http://musica.terra.com.br/noticias/0,,OI5685077-EI1267,00-Roger+Waters+destroi+muro+e+homenageia+Jean+Charles+em+turne.html e http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/03/homenagem-de-roger-waters-emociona-pais-de-jean-charles-no-rs.html
[8] http://www.youtube.com/watch?v=HI1YSPHVeIA
[9] Depoimento de Silvio Caccia Bava para o jornal da Globo News disponível no referido link citado em nota anterior.