Vale a pena relembrar a entrevista de Darcus Howe para a BBC sobre os protestos que aconteceram em Londres como desdobramento da morte do jovem Mark Duggan e a grande repressão policial nas periferias londrinas. Esta é a matéria deste texto, apesar do título não parecer. Ele foi escrito para a conclusão da disciplina sobre Bakhtin e Augusto Ponzio e a filosofia da escuta, no primeiro semestre de 2012 e publicado neste mesmo ano no livro "A ESCUTA COMO LUGAR DO DIÁLOGO - ALARGANDO AS QUESTÕES DE IDENTIDADE", Pedro&João Editores, São Carlos.
A (NÃO) ESCUTA TELEJORNALÍSTICA
Isabela
Morais[1]
Se
você disser
tudo
que quiser
então
eu escuto
Fala
– Secos e Molhados
Sobre falar e escutar
Quando o pensador Augusto Ponzio[2]
propõe uma linguística da escuta, muito mais do que uma menção ao dialogismo e
toda a arquitetônica bakhtiniana erigida sobre a sua ampla noção de diálogo, o
italiano nos propõe associar o exercício da interpretação, estudo da
língua(gem) a partir da dimensão do ato ético, afirmando a integralidade do
pensamento de Bakhtin e seu círculo onde as categorias filosóficas estão
relacionadas com as categorias de interpretação dos sentidos de um texto,
unindo forma, material e conteúdo.
Prestar-se a escutar a palavra do
outro é um ato ético, pressupõe uma disposição para a comunicação que se
esforça para entender o contexto de enunciação do outro, aquilo que ele intenta
em dizer, a partir do lugar em que se situa, único no tempo e no espaço. Ainda
que nossas contrapalavras sejam inevitáveis, escutar a fala do outro é ouvir
não apenas as nossas respostas às falas de outrem, mas propriamente tentar
compreender aquilo que o outro quer expressar, no sentido da sua existência.
Por isso o escutar de Augusto Ponzio vem junto com o calar. Calar é o ato
ético. Não implica em anular-se. Anular-se é negar a singularidade é ela mesma
quem possibilita uma compreensão amorosa dos sentidos dos nossos atos.
Aliar o ato ético da escuta não é
cair a um relativismo pós-moderno de dissolução do sujeito. Todo o ponto de
vista está enraizado sócio-historicamente. Ou nas palavras de João Wanderley Geraldi:
“é preciso aprofundar a riqueza da diversidade sem cair na insensatez das
regras fáceis de que tudo vale, que não há desigualdades a superar, que não há
sentidos em circulação e compromissos entre leitores e autores”. (GERALDI,
2010, p. 48).
O (des)encontro de palavras
Há sim muitas desigualdades parar
serem superadas e que, antes de mais nada, devem ser encaradas. Trazemos para
essa conversa um vídeo disponível na internet[3]
com o excerto do Jornal da Cultura do dia 12 de agosto de 2011, exibido pela TV
Cultura e apresentado por Maria Cristina Poli. Com um formato bem peculiar
diante dos outros telejornais dos canais abertos, o Jornal da Cultura tem
sempre na bancada a presença de dois intelectuais que gozam de plena liberdade
para comentarem as notícias exibidas. Além do mais, a intervenção do
telespectador é bem quista e de fato intervém no aqui agora do jornal.
Agosto de 2011 ficou marcado na
história do Reino Unido devido a uma série de protestos e tumultos
desencadeados pela morte do jovem Mark Duggan pela polícia londrina. Entre os
dias 06 e 10 de agosto, o tumulto tomou grandes proporções, encontrando ecos em
outras localidades do país. O
vídeo em questão mostra a âncora do jornal
iniciando uma conversa a respeito destes conflitos. Dentre as muitas histórias
relacionadas aos acontecimentos na Inglaterra, afirma a âncora, está uma
entrevista feita pela BBC com um morador da periferia da cidade. Após uma breve
apresentação, ela introduz ao vídeo da entrevista que será exibida durante o
Jornal dizendo que a apresentadora da BBC perguntara ao entrevistado se ele
estava chocado com o que viu nas ruas de Londres.
Passamos então a assistir a tal
entrevista.
Como de praxe no jornalismo, a âncora do jornal britânico, Fiona
Armstrong, pergunta já sugerindo uma resposta “você está chocado?”. Mas os
produtores do jornal talvez não contassem com a resposta do entrevistado.
Munido de serenidade e clareza, o entrevistado, Darcus Howe, responde que não.
Não, não estou. Eu vivo em
Londres há 50 anos e muitos momentos diferentes. Mas do que tenho certeza,
ouvindo o meu neto e o meu filho, é que alguma coisa muito muito séria estava
para acontecer neste país. Os líderes políticos não tinham nem ideia, a polícia
não tinha nem ideia. Mas se você olhar pra os jovens negros e para os jovens
brancos e prestar atenção no que eles estão dizendo... mas não ouvimos! Eles
estão nos contando, e nós não estamos ouvindo, o que está acontecendo neste
país. Para eles...[4]
É neste momento que Darcus Howe é
interrompido pela âncora Fiona. A jornalista parece estar inconformada com a
resposta do entrevistado. Ela novamente o interpela, tentando trazê-lo a si,
tentando demonstrar o quão absurda é posição de “não estar chocado” com os acontecimentos.
“Sr. Howe se você pudesse parar só por um momento... Você está dizendo que não
está chocado e nem condena o que aconteceu na sua comunidade na noite
passada?”, diz ela.
Howe
responde: “Claro que não! Por que eu condenaria? O que me preocupa é havia um
jovem chamado Mark Dogan. Ele tinha uma casa, ele tinha irmãos, tinha irmãs e a
poucos metros do lugar onde ele mora, um oficial de polícia estourou sua cabeça
com um tiro.”
Fiona
começa a interromper sua fala novamente, mas desta vez Howe se altera e pede
para que ela o deixe continuar. Ainda assim Fiona prossegue. Munida do discurso
legalista, a jornalista diz que “é necessário esperar a conclusão do inquérito
policial para dizer uma coisa dessas. Nós não sabemos o que aconteceu com Sr.
Dogan”. E ela tenta novamente conduzir a entrevista: “Você estava falando do
seu filho, do seu neto...”
Howe, que não parara de falar um só
instante, recebe novamente o close do
vídeo, o áudio e o silêncio de Fiona e prossegue:
Eles [os policiais] tem parado e
revistado os jovens negros sem motivo algum. Eu tenho um neto, que é um anjo.
Precisamos começar a pensar. Ele vai crescer, um policial vai enconstá-lo
contra parede e revistá-lo, mesmo que não haja motivo e ele não vai ter a quem
recorrer. Então penso que alguma coisa séria está acontecendo neste país. Eu
perguntei a meu filho ‘quantas vezes a polícia já parou você?’ e ele disse:
‘papai, eu já não consigo contar, de tantas vezes que isso aconteceu’.
A âncora então afirma que isso não é
motivo para sair promovendo desordens, distúrbios, quebrando tudo, como temos
visto nos últimos dias. A resposta é clara e enfática: “Eu não chamo isso de
desordem. Isto é insurreição popular. Está acontecendo na Síria. Está
acontecendo em Clapton. Está acontecendo em Liverpool.(...) E essa é a natureza
do momento histórico em que estamos vivendo.”
Fiona recebe novamente aparece no
vídeo e reiteira “O que estou perguntando é se o senhor não está preocupado com
os distúrbios, está? O senhor tomou parte dos distúrbios?”
Darcus Howe indignado responde:
Eu nunca participei de nenhuma
desordem. Eu participei de algumas manifestações que terminaram em conflito.
Tenha algum respeito por um velho imigrante negro das Índias Ocidentais e pare
de me acusar de ser um desordeiro. Eu não estou aqui para ser ofendido. Isso é
tão idiota. Tenha algum respeito.
Um tanto constrangida, Fiona
Armstrong agradece a Darcus Howe pela participação, seguindo o protocolo
jornalístico e deixamos de ver o rosto do velho negro indignado. A
apresentadora do Jornal da Cultura, então, retoma a fala, agradece o
telespector que enviou o link com a entrevista e então a banca começa a
discutir a entrevista.
Palavra: signo ideológico por
excelência
Escolhemos tal entrevista por ser
uma triste ilustração daquilo que o círculo de Bakhtin quis dizer ao afirmar
que a palavra é a arena da luta de classes. Esta entrevista nos possibilita
também problematizar essa “idade mídia”, como gosta de dizer Geraldi onde:
Usar o controle remoto para
trocar de canais, eis a caricatura desta liberdade vigiada, regulamentada,
normalizada, em que nos isolamos numa suposta interioridade de
leitores-expectadores condenados a ler o mesmo e sua reprodução nas inúmeras
novidades que as programações de televisão oferecem, seja esta novidade a passagem veloz de um fragmento de notícia para
outro, deslocando-nos todas as noites pelo mundo sem que dele apreendamos a
história de sua construção, seja esta novidade o retorno cada vez mais
insistente dos mesmos quadros, das mesmas estruturas, dos mesmos risos sobre os
mesmos estereótipos, quase sempre preconceituosos. Na idade da mídia, a
relação do aparelho de tevê talvez seja a melhor síntese do isolamento do
sujeito, apertado pelos círculos que o individualizam e que simultaneamente lhe
exigem ser regulado, igual aos outros e autêntico. (GERALDI, 2011, p. 42 –
grifos nossos)
Fica clara aqui a atitude da
jornalista em direcionar a opinião do entrevistado. Ela gostaria que ele
tivesse dito algo que não disse. A partir da negativa de Howe a âncora tenta muitas
vezes mostrar o absurdo que é não ser contrário aos “distúrbios e tumultos”.
Esta primeira negativa dele foi o suficiente para deixá-la indignada a tal
ponto de não conseguir acompanhar a construção de sua argumentação.
Argumentação essa que aponta justamente na direção do que Geraldi aponta na
citação há pouco citada, ou seja, explicitar o processo histórico, o meio
através do qual os processos se dão.
Segundo Walter Benjamin (1994) no
seu texto “O Narrador”, a imprensa, um dos mais importantes instrumentos da
consolidação do alto capitalismo, instaurou uma nova forma de comunicação: a
informação, que aspira a uma verificação imediata, podendo ser compreensível
“em si e para si”. Se as narrativas da tradição oral são estranhas a essa nova comunicação,
também o é a capacidade de elucidar as mediações dos processos históricos.
Na
superficialidade dos acontecimentos é de fato plausível que “os cidadãos de
bem” condenem carros e prédios queimados, lojas saqueadas. A tentativa de
Darcus é associar, entretanto, tais acontecimentos com a crise estrutural do
capitalismo, que vem se agravando desde a década de 1970, gerando um desemprego
estrutural nos países centrais além da falência do estado de bem estar social e
a degradação dos direitos sociais e trabalhistas. Enxergar os protestos
enquanto sintoma, enquanto uma resposta
a uma determinada conjuntura social.
A metáfora crítica do corpo
grotesco e a consciência do processo histórico
Darcus
rompeu com o esperado do gênero do discurso “entrevista ao vivo em telejornal”.
Geralmente, este espaço é utilizado menos para um debate do que para uma mera
ilustração do ponto de vista dos editores do telejornal sobre o fato noticiado.
Geralmente se espera uma postura conservadora de um velho senhor diante dos
jovens. Uma imagem bastante cara à arquitetônica bakhtiniana bastante
desenvolvida no trabalho sobre Rabelais é a ligação entre o velho e o novo, a
morte-prenha, a velhice que consegue louvar o novo. Estas imagens estão ligadas
ao realismo grotesco. Susan Petrilli[5]
considera o corpo do realismo grotesco como uma metáfora contra o
individualismo burguês e afirma:
A metáfora do corpo grotesco na
sua expressão carnavalesca ajuda a destacar/evidenciar a dinâmica do contraste
entre duas visões de mundo dentro da mesma cultura: por um lado, o corpo
individualizado e fechado, autossuficiente e isolados em relação a outros
corpos, por outro lado, o corpo de protuberâncias e interstícios, situado numa
relação intercorpórea, conectado
externamente com outros corpos; e, respectivamente, por um lado, a lógica
fechada da identidade, por outro lado, a abertura para o outro com dialógica
alteridade extralocalizada. (PETRILLI, 2012 – tradução nossa)[6]
A postura de Darcus Howe é em si
contestatória da ordem burguesa, individualista e de visão fragmentária e a
imagem do velho que não nega o novo, mas ao contrário se alimenta dele, está em
consonância com ele, numa relação de alteridade e proximidade gera o sentido de
crítica e por isso destoa, se destaca, choca.
Um ponto que merece ser destacado
dessa entrevista é o momento em que Darcus afirma que o jovem foi morto pelo
policial. Mais uma vez a postura de Howe quebra o protocolo da entrevista. A
afirmação convicta tem a força das conversas do cotidiano, todos nós a despeito
da oficialidade dizemos e afirmamos coisas a despeito das provas conclusivas de
inquéritos oficiais. O discurso legalista de Fiona contrasta frontalmente ao de
Howe quando ela o adverte que não se pode falar algo “tão grave” sem que o
inquérito esteja concluído. Aqui cabe salientar: não se pode dizer ali, ao vivo, em rede nacional, em lugar
social definido. Como já dissemos, nos discursos do cotidiano é possível que
aquela seja a forma com a qual este assunto é tratado: o policial matou o jovem
rapaz.
Em seus trabalhos, o sociólogo Loic
Wacquant afirma que
a crescente criminalização a que
estão sujeitos por toda Europa os militantes dos movimentos sociais de
desempregados, de sem-teto e contra a discriminação (...) não pode ser
entendida fora do sentido amplo da penalização da pobreza, elaborada para
administrar os efeitos das políticas neoliberais nos escalões mais baixos da
estrutura social das sociedades avançadas. (WACQUANT, 2008, p. 93).
O sociólogo francês tem muitos
trabalhos em que demonstra que o avanço do neoliberalismo é concomitante a uma
política crescente de penalização da miséria e encarceramento em larga escala.
Logo, estas intervenções policiais que Darcus denuncia, contra seu filho e os
demais jovens negros dos subúrbios londrinos, fazem parte de uma política clara
e já diagnosticada:
As agressivas práticas policiais
e as medidas de encarceramento adotadas hoje no continente europeu são parte
integrante de um processo mais amplo de transformação do Estado, que foi posto
em marcha pela mutação do trabalho assalariado e pela reversão da balança do
poder, tanto na relação entre as classes como na luta dos grupos pelo controle
do emprego e do Estado. (WACQUANT, 2008, p. 93).
Ecos brasilianos
A ação policial britânica já foi
notícia no Brasil quando do assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes
em um metrô, alvo de oito tiros. As
justificativas da morte basearam-se na aparência e em “condutas suspeitas”. E
conforme contam Roberto Barros e Margaret Mcadam (2005):
Segundo as
políticas criminosas do governo britânico, a sorte de Menezes foi traçada pela
cor de sua pele. Os amigos do eletricista disseram que Jean havia sido
revistado anteriormente pela polícia, além de já ter sido hostilizado por
grupos de jovens neofascistas. (MCADAM e BARROS, 2005, s/p)
Não
se trata aqui de traçar um maniqueísmo entre os países. A arquitetônica
bakhtiniana não nos permite cair na cilada das identidades, que engessam as
possibilidades das singularidades e seus devires. Basta lembrar que
recentemente o britânico Roger Waters, ex-baixista da lendária banda de rock
progressivo Pink Floyd, esteve no Brasil com a turnê do show The Wall e dedicou
o show, que é todo permeado por uma forte crítica ao autoritarismo, às guerras
e ao individualismo, ao brasileiro Jean Charles “e sua família pela luta pela
verdade e justiça e a todas as vítimas do terrorismo de Estado”[7].
A menção a Jean Charles não fora uma mera política de boa vizinhança do
roqueiro com o público brasileiro. Não foi apenas nos shows realizados no Brasil
que Jean foi lembrado, mas sim em todas as apresentações da turnê. Ao final da
clássica canção Another Brick in The Wall pt II, conhecida pela crítica ao
autoritarismo na educação, é projetado no muro enorme um metrô em movimento e o
ouve-se o barulho do mesmo nas caixas do equipamento de som quadrafônico
espalhadas pelo local do show. O rosto de Jean Charles aparece projetado no
telão e em seguida sua ficha:
Jean Charles de
Menezes
Civilian
Born 1978
Brazil
Died 2005
Stockwell Road
Tube Station
London, England
Não se trata mesmo de fazer
maniqueísmo de identidades nacionais. Até porque se voltarmos à prática que não
escuta do telejornalismo, temos um exemplo nacional. Teríamos muitos, mas temos
um ainda dentro da conjuntura dos tumultos de agosto, ou nas palavras de Darcus
Howe, da insurreição popular. Em vídeo também disponível na internet[8],
podemos assistir a um jornal da Globo News entrevistando o sociólogo Silvio
Caccia Bava sobre as efemérides inglesas. O início da entrevista (e cabe
salientar que toda ela) é bem parecido ao da BBC, o jornalista começa a
conversa já colocando seu ponto de vista e esperando uma confirmação do
entrevistado:
Bom, Silvio, a gente viu nessas
imagens, me parece que o estopim foi o protesto contra a morte do jovem nesse
tiroteio com a polícia, mas o contexto social parece ter se perdido, né? O
fundamento dessas manifestações. O que tá acontecendo agora, na sua visão, é
que pessoas e jovens estariam aproveitando o caos para praticar crimes?
O
sociólogo responde, sorrindo: “Não. Eu não vejo assim” e inicia uma
argumentação muito parecida com os argumentos expostos aqui tanto de Darcus Howe
quanto do sociólogo Wacquant sobre a criminalização da miséria e dos movimentos
sociais que se insurgem contra as condições nas quais vivem esses jovens, que
sofrem com a presença intimidatória da polícia além do alto índice de desemprego:
Quando morre então Marc,
assassinado pela polícia, segundo todas as indicações, não é?, há uma
manifestação de cerca de 300mil pessoas, familiares e vizinhos, que vão à
delegacia pedir satisfações e durante quatro horas eles ficam lá sem resposta. Quer dizer, eu tô
entendendo que o que há é uma falta de
canais institucionais, políticos para apresentar demandas e pra encarar uma
situação que também tem seus reflexos decorrentes da crise financeira[9].
A fala de Caccia Bava elucida a
falta de voz dessa população marginalizada. O Estado se omite em relação aos
direitos, mas é bastante presente no quesito repressão. De forma análoga, é uma
tendência da imprensa em não abrir espaço para essas vozes. As duas entrevistas
aqui são brechas, de duas pessoas que aproveitaram do momento único e
irrepetível e não foram impostoras, não apenas ritualizaram, para lembrar as
expressões de Augusto Ponzio, mas foram responsáveis em seus atos e ocuparam
seu lugar único no tempo e no espaço e através de suas vozes fizeram ecoar
essas vozes que gritam sem ninguém para ouvir.
Exercício da escuta das brechas do
singular e seu devir
Poderíamos ter iniciado nossa
conversa falando diretamente da entrevista da BBC, sem mencionar a mediação
feita pelo Jornal da Cultura. A ideia foi justamente não cair nas teias
tentadoras da generalização, que não nos permite vislumbrar as potencialidades
das singularidades em seus devires. Se a atitude dos jornais da BBC e da Globo
News converge com a postura recorrente da cultura jornalística, por onde ecoam
as vozes hegemônicas da sociedade, a postura do Jornal da Cultura foi diferente,
neste episódio singular. No limite, foi ética. Participou do exercício da
escuta.
Referências bibliográficas
BAKHTIN,
Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média
e no Renascimento. O contexto de François Rabelais. São Paulo-Brasília:
Ed.HUCITEC - Ed. UNB, 2008.
_______.
Estética da Criação Verbal. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
_______.
(VOLOCHINOV) Marxismo e Filosofia da
Linguagem problemas fundamentais do método sociológico na ciência da
linguagem. 8. ed. Tradução por Michel
Laud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1997.
_______.Para uma filosofia do ato responsável.
Tradução Carlos Alberto Faraco e Valdemir Miotello. São Carlos: Pedro &
João Editores, 2010.
BARROS,
Roberto e MCADAM, Margaret. ‘Somos todos
Jean Charles!’ Contra o terrorismo de Estado e a escalada criminosa, xenófoba
e racista de Blair & Bush. Publicada em 07 de setembro de 2005. Disponível
em http://www.pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=4146&ida=0
BENJAMIN,
Walter. O narrador. In. Magia e
Técnica, Arte e Política Ensaios sobre literatura e História da Cultura - Obras
Escolhidas Vol 1. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.
GERALDI,
João Wanderley. Ancoragens: estudos
bakhtinianos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
MCADAM,
Margaret e BARROS, Roberto. "Somos todos Jean Charles!". Jornal Semanal Opinião Socialista, São Paulo,
Ed. 230, set./2005, p.16.Também disponível em: <http://www.pstu.org.br/jornal_anteriores_capa.asp?ed=108>.
PONZIO, Augusto. A revolução bakhtiniana: o pensamento de
Bakhtin e a ideologia contemporânea. São Paulo: Contexto, 2008.
_______. Encontros de palavras: o outro no
discurso. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
_______. Procurando uma palavra na outra. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
WACQUANT,
Loic. As duas faces do gueto. Trad. Paulo
Cezar Castanheira. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.
[1] Mestranda em Sociologia/Ciências
Sociais pelo Programa de Pós Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências e
Letras da Unesp Araraquara. Bolsista CAPES. Orientador: Prof. Dagoberto José
Fonseca.
[2] Referimo-nos aqui a seus
trabalhos recentemente publicados em português pela editora Pedro&João, mas
também, e sobretudo, ao curso ministrado entre 12 e 23 de março no Brasil, mais
especificamente em São Carlos e Araraquara/SP, respectivamente na UFSCar e na
Unesp.
[3]
http://www.youtube.com/watch?v=SQ6eI-XWPrM
[4] Depoimento de Darcus Howe, em 09
de agosto de 2011, para a BBC de Londres.
[5] As ideias abordadas aqui estão
presentes nos últimos trabalhos da autora que estão em fase de tradução para o
português. Tais ideias foram explicitadas durante o curso ministrado no Brasil,
mais especificamente em São Carlos e Araraquara, respectivamente, na UFSCar e
na Unesp, entre os dias 12 e 23 de março. A autora também nos cedeu algumas
anotações em italiano que serão utilizadas aqui.
[6] O texto original das anotações
de Susan: La metafora del corpo grottesco nelle sue espressioni carnevalesche
contribuisce ad evidenziare la dinamica del contrasto fra due visioni del mondo
all'interno della stessa cultura: da una parte, il corpo individualizatto e
chiuso, autosufficiente e isolato rispetto alla relazione con altri corpi,
dall'atra, il corpo fatto di protuberanze e interstizi, situato nella relazione
intercorporea, collegato all'esterno con altri corpi; e, in corrispondenza a
ciò, da una parte, la chiusa logica dell'identità, dall'altra, l'apertura verso
l'altro secondo la dialogica dell'alterità extralocalizzata.
[7] Fala de Roger Waters durante os
shows realizados no Brasil – Porto Alegre (25 de março de 2012), Rio de Janeiro
(29 de março de 2012) e São Paulo (1º e 03 de abril de 2012). A reprodução da
fala está disponível também nas seguintes reportagens: http://musica.terra.com.br/noticias/0,,OI5685077-EI1267,00-Roger+Waters+destroi+muro+e+homenageia+Jean+Charles+em+turne.html
e http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/03/homenagem-de-roger-waters-emociona-pais-de-jean-charles-no-rs.html
[8]
http://www.youtube.com/watch?v=HI1YSPHVeIA
[9] Depoimento de Silvio Caccia Bava
para o jornal da Globo News disponível no referido link citado em nota anterior.