sinto falta do seu céu
e da luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como aí.
sinto falta do andar leve nas ruas
o pôr do sol mais lindo que já vi
seja na solidão das tardes adolescentes no cemitério,
seja na companhia dos bons no altos dos seus morros. velhos.
Três Pontas doida: você não cabe no calendário.
Doida. Berço. Lar.
Contradição pura.
Sair para poder voltar.
Voltar pra poder voar.
Estar e crescer
Teus passos tortos. mandos e desmandos e donos numa ladainha que já conta séculos.
o velho insistente café nas estradas.
meus parentes com cadeiras na calçada.
do roque aos pagodes que cantam no meu quintal alugado.
três pontas pretas:
do preto velho, santo católico, anjo e espírito de luz. que comove gente simples noutro dia que tres pontas vibra povo, gente, suor mais do que nas solenidades do inverno. Preto vitor que celebra a primavera dos povos cantado pelo outro preto Milton que aí cresceu e sabe subverter em canto de luta suas lembranças do catolicismo mineiro. Preto café nas xícaras dos que acordam antes do sol para a panha. Preta de tanta gente nas periferias. Preta na imagem do santo nas lojas do comércio.
Doida da praça que tem de um lado o eterno antro do rock e a igreja imponente da cidade. Ambos já testemunharam seus carnavais: corpos pelo chão, cortejos de alegria e fé.
Três
pontas doida.
Seus músicos, sua arte.
sua gente de salto e botique
sua gente invisível
sua arte de existir.
Salve, minha terra.
nossa terra. terra de todo mundo e quem se aprochegar.
Salve.