(dê play e leia)
o trem vai pela terra
vai pela serra, pelo ar
pelo concreto, asfalto e gente
entorna pelas ladeiras e entope o meio-fio
Esquina mais de um milhão: a gente é gente
gente, gente.
Vida de boi, de gado, junto suado
exprimido: "Cê mora em São Paulo?
Já sabe empurrar no metrô?"
Seis da tarde: a mais triste das horas cristãs:
melancolia da morte do filho de deus:
"Pai por que me abandonaste?"
Somos tantos ombos, braços, pernas, bolsas
fones de ouvido. zumbido, silêncio.
testa franzida
o que são 20 centavos?
não é qualquer desatenção: é a gota d'água.
Salta do trem, do metrô, dos vagões, das escadas rolantes e esteiras que aceleram
o passo torto.
Vem pra rua! - e isso nem é propaganda da TV.
É gente. É povo. É canto.
"Se a tarifa não baixar olê, olê, olá
a cidade vai parar!"
"pula sai do chão contra o aumento do busão"
os pés no asfalto marcham
mar de gente: navegação
Bandeiras tremulam esperanças e ordem
o trem. trem. trem. busão. vagão.
locomoção.
Queremos espaço.
queremos andar, respeito, passar,
livremente.
Fazer valer o adjetivo do nome: PÚBLICO.
Febre interna se alastra: outros pés querem marchar.
Brasil agora é um ponto vermelho no mapa dos povos em chamas.
Podia ser 63, mas não é.
O passado vem à baila como canção e
memória que arde e movimenta o
andar do presente. Pra onde ir?
Bonde da trilhos urbanos saiu dos trilhos.
o trem de doido tá lotado
(e sempre cabe mais gente)
Choque. Bomba. Boom!
Coração, ato, amor.
Fúria, ação, pavor.
"Moço você paga tarifa: abaixa o cacetete
e vem pro lado de cá"
Podia ser 63, mas não é.
Violão fraco e rouco não cansou de chamar:
o samba tão imenso transborda as calçadas e praças do país e toma as ruas.
Antes era só um trem.
Agora é o próprio movimento.
17 de junho de 2013, antes das 17hs.
Texto lido durante o II Ciclo de Estudos Discursivos
realizado pelo GED coordenado por Luciane de Paula
na FCL da Unesp de Assis
enquanto Trenzinho Caipira era executada por Patrick e Jéssica (piano e violino)
Camila e Nicole na voz.